O ativista angolano Rafael Marques afirmou que a falta de liberdade em Angola é uma realidade diária, numa reação a um relatório hoje divulgado que classifica Angola como país “não livre”.
Fonte: Lusa
“Os angolanos têm de conquistar a sua liberdade da mesma forma que conquistaram a independência e essa independência não pode apenas ser simbólica deve ser vivida e sentida por todos os angolanos”, afirmou hoje em declarações à Lusa o também jornalista e diretor do portal angolano Maka Angola.
Para Rafael Marques, que comentava o 51.º relatório anual da Freedom House que classifica Angola como país “não livre” no respeito pelos direitos políticos e liberdades civis, a falta de liberdade é uma realidade no país.
“Não precisamos de ouvir dos Estados Unidos que são somos livres, porque é uma realidade que vivemos todos os dias em Angola”, referiu.
A liberdade, prosseguiu, “não significa apenas ser independentes no papel, significa justiça económica, justiça social”, defendendo a necessidade de o país ter um Governo que sirva o povo e que saiba respeitar as leis.
“E isso nunca tivemos. Logo, é fundamental que os angolanos saibam organizar-se e lutar para que sejam verdadeiramente livres e unidos e trabalhem por uma causa comum”, insistiu o ativista.
Cabo Verde, em primeiro, e São Tomé e Príncipe, em terceiro, estão entre os países mais bem classificados em África no respeito pelos direitos políticos e liberdades civis, surgindo Angola como “não livre”, no relatório divulgado hoje pela Freedom House.
As Maurícias são o segundo país mais bem classificado de África, de acordo com a 51.ª edição anual do relatório “Freedom in the World” (“Liberdade no Mundo”), hoje lançado pelo ‘think tank’ (grupo de reflexão) sediado em Washington, que no caso do continente africano destaca o declínio da liberdade pelo décimo ano consecutivo.
“A liberdade em África diminuiu pelo décimo ano consecutivo em 2023, devido a conflitos armados, golpes militares e irregularidades eleitorais”, considerou a Freedom House.
Relativamente aos países africanos de língua oficial portuguesa, Angola e a Guiné Equatorial são classificados como “não livres”, a Guiné-Bissau e Moçambique como “parcialmente livres” e Cabo Verde (92) e São Tomé e Príncipe (84) como “livres”.
Rafael Marques, jornalista de investigação e diretor do portal angolano Maka Angola, afirmou, por outro lado, que não há união em Angola em prol da liberdade, porque os cidadãos, argumentou, foram divididos durante décadas pelo “fracionismo partidário”.
“E nós vimos o que as ideologias e os partidos políticos, movimentos de libertação, sobretudo, fizeram ao povo angolano, foi pura e simplesmente dividi-los”, apontou.
Criticou ainda o que classificou de “honra aos fascistas e colonialistas” na toponímia de algumas cidades de Angola, como exemplificou a cidade do Cuito, província do Bié, onde algumas ruas ganharam nomes de Salazar e Marcelo Caetano, figuras de topo do regime colonial português.
“Quer dizer, não mudamos nada. Há placas novas na cidade do Cuito que honram os colonialistas e não honram nenhuma figura histórica angolana de relevo e é aí em que se vê que não há união entre os angolanos e nem capacidade de ação que seja significativa para as mudanças que tanto ansiamos”, concluiu.