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Caso IURD: Ala angolana não aceita decisão do governo e vai manifestar-se na sexta-feira “não reconhece facção criminosa dirigida pelo também angolano, Alberto Segunda”

A ala angolana da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) manifesta-se inconformada com o reconhecimento pelo governo da rival brasileira, afirmando não se rever no recente decreto do Ministério da Cultura que altera os símbolos da agremiação e reconhece a facção dirigida pelo também angolano, Alberto Segunda.

O Governo angolano reconheceu recentemente, em decreto, a nova denominação da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) Angola, que passou a designar-se Igreja do Reino de Deus em Angola (IRDA) e determinou a transferência de todo o património para a nova entidade.

Valente Bizarra Luís , que lidera o grupo dissidente daquela organização religiosa anunciou para esta sexta-feira,22, uma vigília defronte as instalações do Ministério da Cultura, com a presença de fiéis.

Bizerra e cerca de uma centena de seus seguidores estiveram nesta segunda-feira,18, junto do Ministério da Cultura para apresentar formalmente a sua contestação, mas não foram recebidos pelo titular da pasta, Filipe Zau.

Em declarações à imprensa Valente Bizerra disse que o seu grupo ficou revoltado com a decisão do governo “ que reconhece que há uma direcção que no dia 8 de Fevereiro reuniu para mudar o nome e a sigla da instituição”.

Bizerra acusou a ala de Alberto Segunda de alegadamente não ter cumprido o acordo que visava a reconciliação e de ter “forçado” a realização de uma assembleia geral que afirma ter sido ilegal.

O decreto executivo nº74/24 de 14 de março do Ministério da Cultura e Turismo angolano confirmou as alterações saídas da reunião extraordinária do conselho de direção da IURD Angola, realizada em 08 de fevereiro de 2024.

Com base no diploma legal, o Governo reconheceu as alterações relativas à nova denominação, logótipos, símbolos, estatutos e regulamentos internos, passando a confissão religiosa .

O decreto, assinado pelo ministro Filipe Zau, determina ainda que os direitos, obrigações e os processos sob gestão da IURD transitam para a IRDA, conforme definido no estatuto aprovado na reunião de fevereiro passado.

O conflito interno na IURD remonta ao ano de 2019, altura em que um grupo de fiéis dissidentes em Angola acusaram a direção brasileira de crimes financeiros, racismo, discriminação e abuso de autoridade e obrigação da vasectomia.

Os desentendimentos internos deram origem a duas alas, sendo uma de origem brasileira, liderada agora pelo angolano Alberto Segunda e outra de origem angolana, dirigida por Valente Bizerra Luís que reclamavam ser as legítimas representantes da igreja fundada por Edir Macedo.

Esta facção tinha sido, num primeiro momento, reconhecida pelo Governo angolano como legítima representante do movimento religioso brasileiro.

Em 2020, as autoridades angolanas determinaram o encerramento de todos os templos afectos à IURD e a suspensão das licenças de três canais de televisão, entre as quais a Record TV África, ligada à igreja fundada pelo brasileiro Edir Macedo, alegando inconformidades legais.

A Record TV tinha exibido diversas reportagens descritas como desfavoráveis ao Governo de Angola por, supostamente, insinuar que os brasileiros eram vítimas de xenofobia no país.

Uma acção judicial intentada por bispos angolanos resultou na constituição em arguidos de quatro membros da liderança da IURD, que foram absolvidos em março de 2022, da maioria das acusações, exceto o ex-responsável Honorilton Gonçalves, condenado a três anos de prisão, de pena suspensa, pelo crime de violência física e psicológica.

Trata-se do ex-líder Honorilton Gonçalves, do bispo angolano António Ferraz, do pastor brasileiro Fernandes Teixeira e do pastor angolano Belo Kifua.

Eles foram acusados de vários crimes, incluindo associação criminosa, branqueamento de capitais e violência doméstica, num julgamento que teve início em 18 de novembro de 2021.

Honorilton Gonçalves foi condenado pelos crimes de violência física e psicológica, ficando a pena suspensa por dois anos, e ao pagamento de indemnizações de 30 e 15 milhões de kwanzas, equivalente, na altura a 60 mil e 30 mil euros, a dois ofendidos que foram submetidos a vasectomia.

Os arguidos foram, entretanto, absolvidos dos crimes de associação criminosa, branqueamento de capitais, burla por defraudação e expatriação ilícita de capitais e ainda uma transgressão que o tribunal entendeu tratar-se de um crime que compete ao Banco Nacional de Angola .

O tribunal ordenoutambem o “descongelamento” da spropriedades da igreja e a sua devolução

Os brasileiros acusavam os bispos e pastores angolanos, que se tinham afastado da igreja, de atos de xenofobia e agressões, na sequência da tomada à força de templos, em todo o país.

Em 2021 o Presidente João Lourenço recusou-se a receber deputados brasileiros que, supostamente, tinham vindo a angola a pedido do ex-presidente, Jair Bolsonaro que na mesma altura teria incumbido o seu Vice, Hamilton Mourão, a vir a Luanda, não somente para participar na XIII Cimeira dos Chefes de Estados e Governos da CPLP mas para convencer João Lourenço a permitir que representantes brasileiros da IURD voltassem a trabalhar no país.

O sociólogo João Lukombo entende que os interesses políticos, angolanos e brasileiros, sobrepuseram-se às decisões dos tribunais angolanos e contribuíram para a decisão de Angola no caso da Igreja Universal do Reino de Deus, fundada por Edir Macedo.

“Os interesses políticos falaram mais alto”, defende o académico que considera que “na política os interesses políticos estão acima da amizade e talvez isso tenha sobressaído como posição do (Governo de Angola)”.

Fonte: VOA