Lisboa — O candidato presidencial Henrique Gouveia e Melo afirmou que Portugal vive “mais de 20 anos de estagnação” e que o país precisa de um “salto transformador”, defendendo-se como a única alternativa independente às candidaturas ligadas aos partidos tradicionais. As declarações foram feitas numa entrevista exclusiva à Euronews, realizada no Altis Avenida Hotel, em Lisboa.
Apesar da recente descida nas sondagens, o almirante na reserva afirma estar confiante numa recuperação até às eleições de 18 de janeiro de 2026. “O que sinto na rua é completamente diferente”, garantiu, atribuindo a quebra ao aumento do número de candidatos que dividiram o eleitorado partidário.
Apresentando-se como candidato “suprapartidário e pragmático”, Gouveia e Melo rejeita rótulos ideológicos e diz estar livre de dependências partidárias, inclusive financeiras. “Pago os meus próprios cartazes”, sublinhou, afirmando que esta independência o torna mais apto a desempenhar um papel moderador caso seja eleito.
O antigo coordenador da ‘task force’ da vacinação contra a Covid-19 recordou que o seu percurso militar não deve ser visto como sinal de autoritarismo. “O que é que me diminui? Ser corajoso, leal e ter servido a pátria sem reservas?”, questionou, criticando o preconceito contra candidatos oriundos das Forças Armadas.
Sobre a proposta legislativa que prevê a perda de nacionalidade como pena acessória para determinados crimes, Gouveia e Melo considera que o diploma “não parece legal”, apontando uma possível violação do artigo 13.º da Constituição. Já em relação à CPLP, defende menos romantismo e mais pragmatismo, defendendo acordos económicos preferenciais e maior aproveitamento do triângulo Portugal–Brasil–Angola.
Na frente da segurança e defesa, o candidato mostra-se favorável a leis que permitam abater drones não tripulados que violem o espaço aéreo nacional, alertando para os desafios colocados pela guerra híbrida e pelos avanços tecnológicos. “É difícil usar um antimíssil de um milhão de euros para abater um drone de 20 mil”, exemplificou, defendendo investimentos em novos sistemas.
Questionado sobre o conflito na Ucrânia, o almirante defende firmeza e prudência. Considera que um plano de paz aceitável deve garantir a integridade territorial de Kiev e evitar acordos que apenas “adiem o problema”. “Uma paz que adia o problema é perigosa para a Europa”, avisou.
Gouveia e Melo defende ainda que o Ocidente não pode aceitar propostas que deixem a Ucrânia vulnerável e rejeita a ideia de que os países europeus devam resignar-se diante de ameaças externas. “Se formos atacados, só há duas alternativas: reagir ou capitular”, afirmou.
O candidato diz querer uma presidência focada em mobilizar o país para resolver problemas estruturais, apoiando a governação quando necessário, mas sendo exigente. A nomeação das cinco personalidades para o Conselho de Estado, porém, é assunto que continua em aberto.

