Luanda — O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou esta segunda-feira que Angola suporta “um peso excessivo da dívida”, situação que aumenta a vulnerabilidade do país perante choques externos. O apelo foi feito durante uma conferência de imprensa em Luanda, após a sua intervenção na Assembleia Nacional e um encontro com o Presidente João Lourenço.
Lusa
Guterres reiterou que o atual enquadramento financeiro global penaliza países em desenvolvimento, insistindo na necessidade de uma “reforma profunda da arquitetura financeira mundial”, capaz de oferecer “financiamento acessível, previsível e justo”, sobretudo para nações afetadas por crises que não provocaram. A mesma mensagem, recordou, tinha sido levada recentemente à Cimeira do G20.
O secretário-geral defendeu ainda que os países africanos devem ocupar o lugar que lhes corresponde nas instituições multilaterais, incluindo o Conselho de Segurança da ONU e os organismos financeiros internacionais. “É um escândalo que ainda não haja membros permanentes do continente africano”, afirmou, classificando o atual cenário como “insustentável”.
Durante a visita, que coincidiu com as celebrações dos 50 anos da independência de Angola, Guterres destacou a importância histórica do país no seu próprio percurso político, sublinhando que a luta de libertação angolana teve impacto direto na abertura democrática em Portugal. “Regressar a Angola é voltar a um país que marcou profundamente a minha consciência”, disse.
Guterres elogiou ainda o papel de Angola na prevenção e resolução de conflitos na região dos Grandes Lagos, classificando o país como “um pilar da União Africana” e um parceiro estratégico das Nações Unidas. “Angola sabe quanto custa a guerra e quanto vale a paz”, sublinhou.
A crise climática foi outro ponto central das declarações, com o secretário-geral a alertar para as secas severas que afetam o país e que têm impactos devastadores nas comunidades rurais. “A justiça climática exige apoio massivo e imediato”, afirmou, defendendo investimentos em sistemas de alerta precoce, agricultura resiliente, gestão sustentável das florestas e uma transição energética justa.
Para Guterres, o debate sobre o aquecimento global não se resume a dados técnicos: “Falar de graus de aquecimento é falar de vidas humanas — aqui em Angola e em todo o mundo”.

