O Presidente angolano, João Lourenço, fez uma crítica indireta ao Ruanda e ao grupo rebelde M23, em um discurso feito em Addis Abeba, na qualidade de presidente da União Africana (UA). Essa declaração ocorre poucos dias antes de Luanda ser o palco das primeiras negociações diretas entre o governo da República Democrática do Congo (RDC) e os rebeldes do M23, que contam com o apoio do Ruanda.
Durante sua fala, Lourenço abordou o agravamento de vários conflitos no continente africano, destacando a situação no leste da RDC. Embora não tenha mencionado diretamente o nome do Ruanda, a crítica do presidente angolano foi clara ao se referir àqueles que, segundo ele, têm planos de fragmentar a RDC ou até mesmo derrubar o governo de Kinshasa.
“Há aqueles que estão tentando implementar um plano de balcanização da RDC, com a criação de um Estado no leste do país, ou até mesmo tentar tomar o poder em Kinshasa pela força militar”, afirmou Lourenço, sublinhando que Angola, à frente da UA, não cruzará os braços e continuará a buscar soluções pacíficas para o conflito.
Este discurso vem em um momento delicado, quando os rebeldes do M23, após tomar várias cidades no leste da RDC, ameaçaram avançar até a capital, Kinshasa. Alguns relatos indicam que um dos objetivos do M23 seria estabelecer uma região autônoma nas áreas por ele controladas. A situação preocupa tanto pela instabilidade gerada quanto pela crescente fragmentação do território congolês.
Como parte dos esforços de mediação, Angola anunciou que sediará, no dia 18 de março de 2025, negociações diretas entre as autoridades da RDC e os rebeldes do M23. Esta será a primeira vez que o governo congolês concorda em manter conversas diretas com o grupo rebelde, após a visita do presidente congolês Félix Tshisekedi a Luanda.
Lourenço, em seu discurso, também abordou as ações de países e grupos que fomentam tensões no continente, defendendo que tais atitudes não podem passar sem consequências. Ele enfatizou que a UA precisa ser mais rígida em sua abordagem dos conflitos, adotando sanções pesadas contra aqueles que promovem a desestabilização na África.
“Precisamos fortalecer o Conselho de Paz e Segurança da UA, para que possamos lidar melhor com os conflitos em nosso continente. Devemos nos envergonhar do fato de que, muitas vezes, instituições externas, como a União Europeia ou o Conselho de Segurança da ONU, são mais rigorosas e exigentes do que nós mesmos em relação ao tratamento de conflitos internos”, declarou o presidente angolano.
Com vistas à construção de um futuro mais pacífico, Lourenço sugeriu a realização de uma grande conferência dedicada a analisar os conflitos africanos, focando principalmente na paz como um bem essencial e inegociável para os povos do continente.
Essas palavras de João Lourenço refletem o compromisso da Angola com a mediação de conflitos e a busca por uma solução estável para a RDC, enquanto se mantém vigilante contra os esforços externos e internos de fragmentação do país.