No último domingo, o Papa Francisco realizou uma visita histórica à Córsega, tornando-se o primeiro pontífice a pisar a ilha francesa. A viagem, que teve uma duração de apenas nove horas, foi marcada por temas importantes, como as tradições religiosas locais e os desafios do Mediterrâneo, incluindo as tragédias da migração e os conflitos que afligem a região.
A Córsega, que foi cedida pela República de Génova à França em 1768, é uma ilha com forte influência mediterrânea e um vínculo mais estreito com a Itália do que com a França continental. Durante a visita, o Papa Francisco focou-se nas questões sociais e espirituais que afetam o Mediterrâneo, destacando, em particular, a religiosidade popular da ilha, que tem profundas raízes no culto da Virgem Maria, conhecido localmente como “Madonuccia”. Este culto é especialmente significativo para os corsos, que acreditam que a Madonuccia os protegeu da peste em 1656.
O ponto alto da visita foi a participação do Papa na Conferência sobre a Religiosidade Popular no Mediterrâneo, organizada pelo bispo de Ajaccio, Cardeal François-Xavier Bustillo. Durante o evento, o pontífice falou sobre as tradições religiosas locais e a importância de manter vivas essas práticas de fé. Além disso, Francisco não deixou de abordar a trágica realidade das migrações, destacando o Mediterrâneo como o “maior cemitério da Europa” devido às muitas vidas perdidas durante a travessia de migrantes em busca de um futuro melhor.
Após a conferência, o Papa Francisco se dirigiu à Catedral de Santa Maria Assunta, no centro de Ajaccio, onde se encontrou com membros do clero. Durante o trajeto, fez uma parada em frente à estátua da Madonuccia, um símbolo de devoção popular da ilha. Em seguida, celebrou uma missa no parque da Place d’Austerlitz, um local histórico onde, segundo a tradição, Napoleão Bonaparte brincava quando era criança. Estima-se que cerca de 7.000 fiéis tenham participado da celebração.
A visita teve ainda um momento de diplomacia, com o Papa se encontrando com o presidente francês, Emmanuel Macron, em um encontro privado no aeroporto antes de embarcar em seu voo de retorno a Roma. A rápida visita à Córsega, que durou cerca de nove horas, reflete a escolha de Francisco por priorizar a “igreja das periferias”, longe da pompa das grandes capitais e dos protocolos de visitas de Estado. Em vez de visitar Paris, como muitos pontífices anteriores, Francisco tem se concentrado em locais menos centrais, como Marselha, onde esteve em 2023 para participar de uma cúpula de bispos mediterrânicos, e Estrasburgo, onde discursou no Parlamento Europeu em 2014.
A Córsega, com uma população de cerca de 340.000 habitantes, tem sido parte da França desde o final do século XVIII. Recentemente, o presidente Macron sugeriu a possibilidade de uma maior autonomia para a ilha, o que gerou discussões políticas sobre o futuro da região. A visita do Papa Francisco a este território, marcada por temas de solidariedade, fé e reflexão sobre a realidade mediterrânea, reflete o compromisso do pontífice em dar voz a questões que afetam diretamente as periferias da sociedade.