Hoje, o Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, terá a palavra na 29ª Cimeira Ibero-Americana, que está a decorrer em Cuenca, no Equador. Este evento, que reúne representantes de países da Ibero-América, destaca-se este ano pelo número reduzido de presenças, com apenas quatro chefes de Estado e de Governo confirmados. O evento ocorre num momento político delicado, com o Equador a atravessar uma crise energética e de violência.
Marcelo Rebelo de Sousa, que lamentou o baixo número de participantes, expressou a esperança de que a próxima cimeira, marcada para daqui a dois anos em Espanha, inicie um “novo ciclo” para a comunidade ibero-americana. A edição deste ano conta com a presença do rei Felipe VI de Espanha, o presidente do Equador, Daniel Noboa, o chefe do Governo de Andorra, Xavier Espot Zamora, além de Marcelo Rebelo de Sousa. Este alinhamento destaca uma predominância europeia incomum, dada a ausência dos outros 18 países latino-americanos da comunidade.
Além do Presidente da República, Portugal também está representado na cimeira pelo Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel. A sessão plenária, onde Marcelo Rebelo de Sousa irá discursar, terá início às 09h30 (hora local) e abordará temas como “Inovação, inclusão e sustentabilidade”.
A realização da cimeira ocorre em um contexto de crise no Equador, que enfrenta severos problemas como uma seca prolongada e cortes diários de eletricidade, além de uma crescente violência. Por sorte, Cuenca, a cidade que acolhe o evento, não será afetada pelos cortes de energia, embora a segurança tenha sido reforçada, com presença visível de forças armadas nas ruas. O centro histórico da cidade, classificado como Património Mundial pela UNESCO, tem sido o cenário de passeios de Marcelo Rebelo de Sousa, tanto durante o dia como à noite, onde interagiu com a população local.
Antes da cerimónia inaugural da cimeira, Marcelo Rebelo de Sousa participou de uma reunião sobre o Programa Ibero-Americano de Deficiência e também marcou presença no 15º Encontro Empresarial Ibero-Americano. Durante a quinta-feira, o Presidente teve ainda um encontro bilateral com o rei Felipe VI de Espanha, onde discutiram questões de interesse mútuo.
No plano político e diplomático, a cimeira ocorre em um momento de tensão, com o México a cortar relações diplomáticas com o Equador após um incidente envolvendo a invasão da embaixada mexicana em Quito, em abril deste ano. A crise política gerada por este caso tem gerado repercussões significativas na América Latina.
A participação reduzida de líderes na Cimeira Ibero-Americana também pode ser atribuída à coincidência de datas com outras cimeiras importantes, como a do Fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC) em Lima, Peru, e à preparação do Brasil para a realização da reunião do G20 no Rio de Janeiro na próxima semana. Essas agendas concorrentes têm atraído a atenção de muitas lideranças globais, o que contribui para a escassez de chefes de Estado latino-americanos no evento de Cuenca.
A Cimeira Ibero-Americana é um encontro que reúne anualmente ou bienalmente os líderes de 22 países, incluindo Portugal, Espanha e Andorra, além de 19 nações latino-americanas. O primeiro encontro aconteceu em 1991, na cidade mexicana de Guadalajara, e desde então tem sido um ponto de encontro fundamental para discutir temas de interesse comum. Tradicionalmente, Portugal tem sido representado por seus chefes de Estado e de Governo, com exceções como na Cimeira de 2018, em Antiga, na Guatemala, quando apenas o Presidente da República esteve presente.
Após o seu discurso na Cimeira Ibero-Americana, Marcelo Rebelo de Sousa seguirá para Quito, onde se reunirá com membros da comunidade portuguesa no Equador. No sábado, antes de retornar a Portugal, o Presidente participará de um encontro com a comunidade local, aproveitando a oportunidade para estreitar laços e discutir questões relacionadas com os portugueses no país.
O evento de Cuenca representa, assim, um momento de reflexão sobre o futuro da comunidade ibero-americana, em meio a desafios internos e externos, mas também oferece uma oportunidade para estreitar relações e fomentar o diálogo entre os países participantes.