A Tanzânia vive um momento político tenso com a tomada de posse, esta segunda-feira, de Samia Suluhu Hassan como Presidente da República, após vencer as eleições gerais de 29 de outubro com 97,66% dos votos, segundo os resultados oficiais. A cerimónia contou com a presença do Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, convidado de honra, e de outros líderes africanos e representantes da União Africana.
Contudo, o ato solene ocorre sob forte contestação da oposição e de organizações de direitos humanos, que denunciam a morte de pelo menos 700 pessoas durante os protestos que eclodiram em várias cidades do país após o anúncio dos resultados.
O Chadema, principal partido da oposição, rejeita categoricamente a vitória de Samia Suluhu. O seu secretário internacional, Deogratias Munishi, afirmou à AFP que “Samia Suluhu não foi eleita, porque não houve eleições na Tanzânia no dia 29. O que foi anunciado é completamente ilegítimo.”
Líderes regionais também expressaram preocupação. O político queniano Kivutha Kibwana declarou ser impossível considerar as eleições “livres e credíveis”, referindo-se a um “bloqueio da Internet” e a “assassinatos em massa”. A ativista Martha Karua acusou ainda os que reconhecem os resultados de “não desejarem o bem da Tanzânia, nem o de África”.
Por outro lado, a Igreja Católica tanzaniana, através do padre Charles Kitima, denunciou o que considera uma deriva “totalitária” do regime.
A União Africana e as Nações Unidas exigem uma investigação independente às denúncias de uso excessivo da força policial durante as manifestações, mas as autoridades tanzanianas negam os números e recusam responsabilidades.
Em resposta, a Presidente Samia Suluhu Hassan defendeu as ações das forças de segurança, afirmando que “quando se trata da segurança nacional, não há alternativa senão empregar todas as medidas de defesa”.
O Chadema apelou à intervenção urgente do Tribunal Penal Internacional (TPI) e da ONU para apurar os responsáveis pelas mortes e “evitar a escalada da crise”.
Entretanto, o Papa Leão XIV apelou ao fim da violência e ao diálogo entre as partes, pedindo que “a paz e a verdade prevaleçam na Tanzânia”.
Com a posse de Samia Suluhu Hassan, a Tanzânia entra num novo ciclo político marcado pela contestação interna, pressão internacional e apelos à reconciliação nacional.

