Porto — O primeiro-ministro Luís Montenegro afirmou esta segunda-feira que o sistema de saúde português precisa de gastar menos e otimizar recursos, defendendo que a eficiência deve ser prioridade tanto no Serviço Nacional de Saúde (SNS) como no setor privado, que, segundo disse, “está a ficar tão bloqueado como o público”.
As declarações foram feitas no Porto, durante a visita aos escritórios da Sword Health, empresa tecnológica portuguesa que anunciou um investimento de 250 milhões de euros até 2028 para desenvolver soluções de inteligência artificial (IA) aplicadas à saúde.
Montenegro reagia à polémica criada após a Direção Executiva do SNS instruir os hospitais a reduzirem despesas em 2026, mesmo que isso implique travar o aumento de cirurgias e consultas. O chefe do Governo considerou “estranho” o debate público gerado:
“Instalou-se uma grande querela comunicacional porque alguém disse algo simples e óbvio: é preciso otimizar recursos e gerir melhor o investimento financeiro, gastando menos e prestando melhores serviços”, afirmou.
O primeiro-ministro lembrou que, em dez anos, a despesa na saúde subiu de 8 mil milhões para 18 mil milhões de euros, sem que essa evolução se refletisse numa melhoria significativa na perceção dos cidadãos. “Precisamos de uma cultura mais comprometida com resultados”, reforçou.
Durante a cerimónia, Montenegro sublinhou a importância da inovação tecnológica e da IA como instrumentos para “desbloquear” a capacidade instalada do SNS e também do setor privado.
“O setor privado da saúde em Portugal está a ficar tão bloqueado como o público, por falta de soluções. Só vamos conseguir desbloqueá-lo com inovação e com o uso responsável da inteligência artificial”, defendeu.
O primeiro-ministro rejeitou ainda a ideia de que o setor privado seja a solução para o SNS, afirmando que “não é o sistema privado que vai salvar o público, mas sim o SNS que pode ajudar o privado, se não lhe enviar tantos utentes”.
Montenegro aproveitou também para justificar a fusão da Agência para a Inovação e da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), dizendo que “não será uma solução perfeita de um dia para o outro”, mas necessária para aproximar o conhecimento científico da realidade económica.
Durante o mesmo evento, o CEO da Sword Health, Virgílio Bento, destacou que a empresa — avaliada em 4 mil milhões de dólares — já tratou quase 700 mil pessoas e realizou 10 milhões de sessões com IA, poupando “muito dinheiro aos sistemas de saúde” internacionais.
Bento elogiou a “estabilidade do Governo” e garantiu que o investimento será feito “por crença no talento português”. Montenegro, por sua vez, retribuiu os elogios, afirmando que a Sword Health “trata pessoas e melhora a qualidade de vida poupando recursos”, classificando-a como um exemplo do tipo de inovação que o país precisa para modernizar a saúde.
“Volto a São Bento com mais vontade de governar. Vale a pena lutar pelo futuro de Portugal, que se constrói muito mais no sistema empreendedor do que nos gabinetes do Governo”, concluiu o primeiro-ministro.

