A UNITA enfrenta um dos períodos mais delicados da sua história recente, marcada por divisões internas e disputas pela liderança, às vésperas do próximo congresso do partido. O veterano dirigente Menezes Domingos reconheceu publicamente que a formação política atravessa uma fase de fratura e perda de popularidade, alertando que “a UNITA está a perder a sua essência e o voto popular”.
Em entrevista à DW África, Menezes Domingos afirmou que há “fissuras” entre os militantes, com duas correntes principais a disputar a direção: uma que apoia o atual presidente, Adalberto Costa Júnior, e outra que defende a candidatura de Rafael Massanga Savimbi, filho do fundador do partido, Jonas Savimbi.
“Se eu dissesse que a UNITA está saudável, estaria a mentir. Há ruturas sobre quem deve ser o futuro presidente”, reconheceu o dirigente.
“UNITA começa a parecer-se com o MPLA”
O político acusou a atual direção de ter atropelado os valores tradicionais e morais que caracterizavam o partido, levando parte da sociedade a ver a UNITA como “semelhante ao MPLA” — o partido no poder em Angola desde a independência.
“A UNITA era uma reserva moral e tradicional. Infelizmente, os novos líderes fizeram o povo acreditar que a UNITA também é como o MPLA”, afirmou, defendendo um regresso às origens através de uma liderança “mais visível, coesa e próxima do povo”.
O regresso aos valores de Savimbi
Menezes Domingos considera que a renovação da UNITA passa por recuperar os princípios defendidos por Jonas Savimbi, através do seu filho Rafael, que concorre à liderança.
“A UNITA é um partido tradicional, que se revê no nacionalismo africano. O filho de Savimbi pode restaurar esses valores e devolver a essência verdadeira do partido”, afirmou.
Risco de rutura interna
O dirigente alertou ainda que a continuidade da atual liderança pode acentuar as divisões internas, com consequências graves para o futuro da UNITA.
“Se Rafael Massanga não ganhar, a rutura pode aumentar — e isso seria um suicídio político. A UNITA não pode transformar-se num partido de oportunistas ou num clube de amigos”, alertou.
À procura de rumo antes de 2027
Para Domingos, o principal desafio do partido é reconquistar a confiança popular e preparar-se para as eleições gerais de 2027. Contudo, admite que as reformas internas só poderão ser concretizadas após o congresso.
“A UNITA precisa reformular-se e reencontrar-se com o seu povo. Só assim poderá voltar a representar uma verdadeira alternativa política”, concluiu.
O congresso, que promete ser decisivo, poderá definir não apenas a liderança, mas também o rumo ideológico e identitário do maior partido da oposição angolana.

