O jornalista e ativista Rafael Marques de Morais lançou, esta semana, um forte apelo à juventude angolana, instando-a a assumir o papel de protagonista na transformação do país. Em uma carta aberta intitulada “Carta aos Jovens Angolanos: por Uma Revolução de Ideias”, o autor defende que a geração da paz deve romper com o medo e o conformismo herdados das gerações anteriores, iniciando um movimento baseado na ética, no conhecimento e na solidariedade.
Num texto profundamente pessoal, Marques recorda um episódio da infância, em 1979, no bairro da Samba, em Luanda, quando um grupo de crianças desafiou a autoridade para ajudar um soldado exausto. A partir desse relato, o escritor extrai uma lição: “Mesmo sem deter nenhum poder formal, a juventude pode encontrar soluções; pode proteger a pátria, ser criativa, solidária e corajosa.”
Segundo o autor, os jovens angolanos — que hoje compõem a maioria nas instituições públicas, nas forças de segurança, nas igrejas e nos partidos — têm também sido vítimas de uma cultura de medo e alienação, reforçada por décadas de autoritarismo, desigualdade e corrupção.
“Herdaram dos vossos pais o medo do pensamento crítico e o desinteresse pelo bem comum”, escreve Marques, lamentando que muitos usem as redes sociais apenas como palco de distrações e ofensas, e não como instrumentos de transformação social.
O ativista é particularmente crítico em relação à atual elite política, que, segundo ele, “falhou miseravelmente na preparação do país para as novas gerações” e se afundou “nos labirintos do egoísmo, do saque e da ostentação pessoal”.
Apesar do tom severo, Rafael Marques dirige uma mensagem de esperança e mobilização. Para ele, os jovens dispõem hoje das ferramentas necessárias para mudar Angola a partir do conhecimento, da solidariedade e do uso consciente das tecnologias.
“A ciência deve inspirar-vos a transformar o sistema educativo. As redes sociais, quando usadas com propósito, tornam-se armas poderosas para educar, mobilizar e exercer uma liderança transformadora”, destaca o autor.
Marques desafia a juventude a organizar-se de forma autónoma, discutindo ideias e criando causas comuns, com o objetivo de fazer emergir novas lideranças legitimadas pelo mérito e pelo serviço ao bem comum, em vez da demagogia e da corrupção.
Num apelo direto e contundente, o jornalista reforça que a juventude é a maior força cívica e moral da nação:
“Angola é vossa! Não aceitem ser espectadores passivos de uma história de violência e saque. Se não tomarem conta do país agora, amanhã não haverá Angola para tomar conta de vocês.”
A carta encerra com uma convocação urgente à ação: a revolução de ideias deve começar já, e não pode ser adiada.
“A pátria não pode esperar mais. O futuro exige coragem, responsabilidade e compromisso. Não é amanhã – é hoje que se constrói.”
Com esta mensagem, Rafael Marques procura despertar uma geração para a consciência cívica e para o dever histórico de reconstruir Angola através do pensamento, da ética e da ação coletiva.

