Cinquenta anos após a proclamação da Independência Nacional, Angola apresenta um cenário de profundas transformações sociais e demográficas. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), o país passou de cerca de 6,5 milhões de habitantes em 1975 para aproximadamente 35 milhões em 2025, com projeções que indicam uma população de 68 milhões até 2050.
Este crescimento populacional representa um desafio para o Estado, sobretudo na prestação de serviços essenciais nas áreas da saúde, educação, habitação e assistência social.
No discurso alusivo aos 50 anos da independência, foi recordado que, em 1975, Angola dispunha de apenas 19 médicos e 320 unidades de saúde, grande parte delas com condições precárias. A falta de infraestruturas e de pessoal qualificado levou o Estado a depender fortemente da cooperação internacional, especialmente da antiga União Soviética, de Cuba e de países do Leste Europeu.
Durante os anos de guerra, a situação manteve-se crítica: a esperança média de vida não ultrapassava os 41 anos, e 80% da rede hospitalar estava destruída. Ainda assim, o sistema resistiu graças à dedicação dos profissionais de saúde, reconhecidos pelo seu papel na manutenção dos serviços básicos.
Com o fim do conflito armado em 2002, Angola iniciou um processo de reconstrução e expansão do sistema de saúde. Atualmente, o país conta com 3.355 unidades sanitárias e 44.222 camas hospitalares, incluindo 1.609 destinadas a cuidados intensivos.
Destaca-se também a modernização do tratamento de doenças renais, com 35 centros de hemodiálise em 12 províncias, que realizam mais de 600 mil sessões por mês. O número de Juntas Médicas Internas aumentou de 13 em 2017 para 694 em 2024, refletindo uma redução significativa das evacuações médicas para o exterior.
Entre os marcos tecnológicos, sobressai o início da cirurgia robótica no Complexo Hospitalar de Doenças Cardiopulmonares, com 28 intervenções urológicas bem-sucedidas, realizadas a distância por especialistas localizados em Orlando, nos Estados Unidos — a mais de 17 mil quilómetros de Luanda.
Desde 2017, foram admitidos 46.649 novos profissionais de saúde, incluindo 3.828 médicos e 27.276 enfermeiros. Até 2027, prevê-se a formação especializada de 38 mil novos quadros.
Educação: investimentos para reduzir o défice escolar
O crescimento populacional também tem pressionado o sistema educativo. Para responder ao défice de infraestruturas, o governo está a investir 199 milhões de euros na construção e reabilitação de salas de aula em Luanda e no Icolo e Bengo.
Nos próximos dois anos, será implementado um programa nacional de educação com incidência municipal, financiado em 500 milhões de dólares, que inclui a formação e contratação de novos professores.
O Programa Nacional de Alimentação Escolar, com início previsto para o ano letivo 2025-2026, deverá abranger mais de 5 milhões de alunos, contribuindo para a melhoria do desempenho e da retenção escolar.
Ensino superior: de 4 mil estudantes a 330 mil
Em 1962, o ensino superior foi introduzido em Angola com a criação dos Estudos Gerais Universitários de Angola, que se tornaram a Universidade de Luanda em 1968 e, após a independência, deram origem à Universidade de Angola (1976), renomeada Universidade Agostinho Neto em 1985.
Em 1974, havia 4.176 estudantes universitários em todo o país. Com a paz alcançada em 2002, o número subiu para 12.566, e em 2025 ultrapassa 330 mil estudantes.
Atualmente, Angola conta com 106 instituições de ensino superior, distribuídas por 19 das 21 províncias, sendo 31 públicas e 75 privadas. O setor emprega quase 20 mil funcionários, dos quais 11.947 são docentes.
Apesar dos avanços, o governo reconhece que ainda há muito a fazer para garantir qualidade e equidade nos serviços públicos, sobretudo face ao rápido crescimento populacional. O foco, segundo o executivo, continuará a ser o reforço do capital humano, a inovação tecnológica e a expansão sustentável das infraestruturas sociais.
Cinquenta anos depois da independência, Angola mostra sinais de progresso significativo, mas enfrenta agora o desafio de transformar esse crescimento em bem-estar e oportunidades para todos os cidadãos.

