Luanda – O General Higino Carneiro oficializou a sua intenção de se candidatar à presidência do MPLA, movimento que historicamente tem evitado disputas internas visíveis, optando por consensos construídos nos bastidores. A decisão do dirigente veterano agita os alicerces do partido no poder desde a independência de Angola, suscitando dúvidas sobre a estabilidade interna da organização e o seu compromisso com a democracia interna.
Com o anúncio público, feito com convicção diante de microfones e câmaras, Higino Carneiro rompe com a tradição de silêncio e alinhamento automático que tem caracterizado as lideranças partidárias. A sua atitude é vista por analistas como um gesto ousado e inédito dentro do MPLA, levantando questões sobre se se trata de um acto de coragem política ou uma jogada estratégica em busca de maior protagonismo.
A pré-candidatura surge num contexto em que o MPLA enfrenta pressões internas e externas para se reformar, após anos marcados por acusações de fraudes eleitorais e centralização do poder. Entre 1992 e 2022, o partido foi reiteradamente acusado pela oposição e por parte da sociedade civil de manipular processos eleitorais, o que minou a confiança nas instituições democráticas do país.
Ao desafiar a estrutura que o próprio ajudou a construir, Higino Carneiro poderá estar a dar voz a uma ala dentro do partido que se mostra descontente com o “teatro democrático” que, segundo críticos, o MPLA tem encenado ao longo dos anos. A sua declaração pública de ambição poderá representar um ponto de viragem ou, pelo contrário, resultar numa reação interna que vise sufocar qualquer tentativa de mudança real.
“Pela primeira vez em muito tempo, alguém dentro do MPLA disse ‘eu quero’ antes de ser mandado dizer ‘está feito’. Isso, por si só, já mexe com tudo”, observou o jornalista Adilson Paim, autor do texto que trouxe à tona o debate sobre a possível renovação do partido.
Resta saber se o MPLA responderá com abertura ou com o habitual controlo rígido dos seus processos internos. Estará o partido preparado para uma disputa transparente pela liderança, ou irá assistir-se a mais um ensaio de democracia encenada?