A atuação da UNITA no atual cenário político angolano levanta questionamentos sobre a eficácia da oposição dentro de um sistema onde as instituições são acusadas de falta de independência e legitimidade popular. Embora participe dos processos formais, como eleições e ações judiciais, o maior partido da oposição enfrenta críticas por atuar num ambiente considerado viciado e controlado pelo partido no poder, o MPLA.
A análise, divulgada por Henda Ya Xiyetu, criador de opinião, destaca que a legalidade vigente em Angola é vista por muitos como uma estrutura imposta e manipulada, que permite ao regime manter uma aparência democrática perante a comunidade internacional, mas que na prática opera de forma autoritária.
Ao integrar eleições e processos judiciais organizados por instituições sob forte influência do Executivo — como o Tribunal Constitucional ou a Comissão Nacional Eleitoral —, a UNITA, segundo críticos, reforça involuntariamente a fachada de normalidade democrática do regime. Isso permite que o MPLA alegue pluralismo e alternância, mesmo diante de denúncias recorrentes de fraude, desigualdade no acesso à comunicação social e repressão a protestos.
A oposição, ao operar dentro das regras legais estabelecidas pelo próprio regime, acaba por enfrentar barreiras que minam sua capacidade de transformação. A repressão de protestos, a censura e o engessamento dos processos judiciais tornam a atuação da UNITA muitas vezes simbólica e ineficaz.
Decisões judiciais desfavoráveis, protestos reprimidos e uma mídia pública alinhada ao governo contribuem para o enfraquecimento prático e moral da oposição, gerando desilusão entre militantes e simpatizantes.
O texto aponta também que há uma crescente divisão entre os cidadãos, especialmente os mais jovens, sobre a atuação da UNITA. Muitos consideram que o partido se tornou excessivamente institucionalizado e distante das bases populares. Outros ainda veem na sigla a principal força de oposição, embora reconheçam a necessidade de mais firmeza estratégica.
Enquanto isso, movimentos cívicos independentes e grupos de jovens organizam protestos e formas alternativas de resistência, **rompendo com os moldes tradicionais da oposição institucional.
A UNITA continua a ser a força de oposição mais visível e enraizada em Angola, mas esse protagonismo vem acompanhado de cobranças. Há quem defenda que o partido deve equilibrar a participação institucional com ações de mobilização popular e formação política, adaptando-se a um novo contexto social e geracional que exige mais ousadia e menos dependência das regras do jogo autoritário.
A análise conclui com um provérbio africano: “Um tronco de árvore, mesmo que passe cem anos dentro da lagoa, nunca se transformará num jacaré”. A metáfora sugere que seguir as regras de um sistema injusto não transforma a oposição em agente de mudança, mas pode torná-la parte do próprio problema.
Diante deste cenário, cresce o apelo para que a oposição em Angola — e particularmente a UNITA — **reflita sobre seus métodos e estratégias**, sob o risco de perder sua relevância política e o apoio popular caso continue a operar exclusivamente dentro de uma legalidade que muitos consideram ilegítima.