Na quarta edição do Growth Forum – The Global Commerce Exchange, organizado pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), o empresário N’Gunu Tiny lançou um apelo claro: Portugal precisa de uma visão estratégica de longo prazo para África. O evento, que contou com o apoio da Nova SBE, JE, Forbes Portugal e Forbes África Lusófona, serviu como palco para discutir os desafios e oportunidades no contexto africano, destacando temas como investimento, cooperação e integração económica.
Para N’Gunu Tiny, fundador da Media9 e CEO do Grupo Emerald, Angola representa hoje uma ponte segura e estável para o acesso ao continente africano. No entanto, adverte que a proximidade linguística, embora valiosa, não é suficiente para garantir relações sólidas e produtivas. “É essencial desenvolver mecanismos concretos que facilitem o fluxo de capitais entre Angola e Portugal, tal como acontece no espaço europeu”, frisou.
A ideia de complementariedade económica entre os dois países também foi fortemente destacada. Tiny lembrou que Portugal, com acesso ao mercado europeu e vasta experiência em setores como construção civil, pode atuar de forma sinérgica com Angola, país rico em recursos naturais e atualmente em crescimento económico.
Outro ponto relevante abordado foi a lusofonia como fator de coesão cultural. Numa perspetiva otimista, Tiny apontou que essa herança partilhada facilita relações mais autênticas e eficazes entre Portugal e os países africanos de língua portuguesa.
O historiador Jaime Nogueira Pinto, que também participou no painel, trouxe um olhar mais geopolítico. Alertou para os desafios ainda presentes em várias regiões africanas, como as divisões tribais e religiosas que, em muitos casos, continuam a influenciar as lealdades políticas. Segundo ele, Angola é uma exceção positiva, onde o tribalismo perdeu força. Já sobre Moçambique, comentou o contexto político sensível no pós-eleições de 2024.
Nogueira Pinto salientou ainda que o mundo está a entrar numa nova era dominada pelos grandes blocos de poder, como China e Estados Unidos. Neste cenário, a complementaridade entre África e Europa será essencial, sobretudo num momento em que os modelos tradicionais de ajuda ao desenvolvimento tendem a perder protagonismo.
Encerrando o painel, N’Gunu Tiny destacou que o maior ativo de África é o seu próprio mercado: a sua população. “Até 2080, o continente terá mais de 3,4 mil milhões de pessoas — quase um terço da população mundial”, disse. No entanto, para além do crescimento demográfico, reforçou a importância da democracia e da boa governação para garantir o desenvolvimento sustentável.
Por fim, destacou o papel transformador da Inteligência Artificial, que poderá permitir ao continente africano “dar saltos evolutivos” em áreas onde o progresso levou décadas noutras regiões do mundo.