As eleições legislativas antecipadas deste domingo em Portugal trouxeram um cenário político fragmentado e marcado por reviravoltas. A Aliança Democrática (AD), liderada por Luís Montenegro, conquistou o maior número de votos e lugares no parlamento, mas não assegurou uma maioria absoluta, nem mesmo com o apoio potencial da Iniciativa Liberal.
Com 89 deputados eleitos e cerca de 32,7% dos votos, a coligação formada pelo PSD e CDS-PP reforça a liderança de Montenegro, mas não garante estabilidade no Parlamento. Mesmo com uma vitória expressiva em relação às eleições anteriores, a AD depende agora de acordos complexos ou de um governo minoritário, cenário que pode dificultar a governabilidade.
Do outro lado do tabuleiro político, o Partido Socialista (PS) sofreu uma derrota histórica. A queda acentuada na votação — menos 420 mil votos em relação a 2024 — resultou em apenas 58 deputados, o pior desempenho dos socialistas desde 1987. A consequência direta foi a demissão do líder Pedro Nuno Santos, que reconheceu o revés e abandonou o cargo.
Quem se aproximou perigosamente do PS foi o Chega, de André Ventura, que conquistou 22,56% dos votos e também 58 lugares no Parlamento. Um empate técnico que pode ser desfeito após a contagem dos votos dos círculos da emigração — onde o Chega já teve bom desempenho em 2024, ao eleger dois dos quatro deputados disponíveis. Caso repita o feito, poderá ultrapassar o PS em número de mandatos, um marco impensável há poucos anos.
Algumas forças políticas também conseguiram avanços:
- A Iniciativa Liberal aumentou ligeiramente a sua representação para nove deputados, com 5,53% dos votos, mas continua distante de ser peça-chave para uma maioria com a AD.
- O Livre também subiu, passando de quatro para seis deputados, com 4,2% dos votos.
No campo oposto, a esquerda tradicional sofreu pesadas perdas:
- A CDU caiu para três mandatos, com 3,03% dos votos.
- O Bloco de Esquerda foi quase dizimado, passando de cinco para apenas um deputado.
O partido PAN, apesar de perder mais de 45 mil votos, manteve a sua representante, Inês de Sousa Real, no Parlamento.
Já o Juntos Pelo Povo (JPP) foi a grande surpresa regional, tornando-se o primeiro partido da Madeira a eleger um deputado a nível nacional. O nome eleito é Filipe Sousa, atual presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz.
Com um xadrêz parlamentar sem maioria clara e forças políticas em tensão, Portugal entra agora numa nova fase de incertezas. A contagem dos votos da emigração, marcada para o próximo dia 28, pode alterar a balança entre o PS e o Chega, mas dificilmente mudará o cenário geral: governar será um desafio, e os próximos passos dos partidos serão decisivos para definir o futuro do país.