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Moçambique e Angola: Cooperação, aprendizado e o futuro da Governação em África

by REDAÇÃO

A recente visita oficial do Presidente moçambicano, Daniel Chapo, a Angola, nos dias 15 e 16 de maio, desperta grande atenção tanto no campo político como no setor empresarial. Mais do que uma simples agenda bilateral, o encontro representa uma oportunidade para aprofundar os laços históricos e estratégicos entre dois países que, embora com trajetórias semelhantes, enfrentam desafios distintos na construção da democracia e da estabilidade econômica.

Angola e Moçambique têm raízes comuns: foram colonizados por Portugal, conquistaram a independência na década de 1970 e são atualmente liderados por partidos que surgiram como movimentos de libertação — o MPLA em Angola e a FRELIMO em Moçambique. Ao longo de quase cinco décadas, essas formações políticas mantiveram-se no poder, moldando as estruturas sociais e institucionais de seus países.

Durante essa visita, uma questão se impõe: o que Moçambique pode aprender com Angola? Para o especialista em Relações Internacionais Muhamad Yassine, a resposta é clara — é preciso aprender com os exemplos positivos, evitando repetir os erros, especialmente no que se refere ao déficit democrático angolano.

Yassine alerta que, apesar dos fortes laços históricos e partidários, é crucial que Moçambique siga um caminho que priorize a renovação política e o fortalecimento das liberdades democráticas. O presidente Daniel Chapo representa uma geração mais jovem e chegou ao poder prometendo mudança. Para isso, é necessário absorver boas práticas de gestão, como a exploração eficiente dos recursos naturais — um campo em que Angola acumula experiência — sem importar modelos de repressão política.

Do ponto de vista económico, a visita também abre espaço para explorar áreas como a gestão de zonas francas, o setor de energia e o desenvolvimento de infraestruturas. Moçambique inicia agora a exploração de gás e petróleo, e pode beneficiar-se da vivência angolana nesses setores, mas com atenção redobrada para não repetir erros do passado, como os relacionados ao escândalo da dívida oculta.

No campo diplomático, Angola tem sido um ator influente em momentos críticos da política moçambicana. Durante a recente crise pós-eleitoral, foi um dos primeiros países a reconhecer a vitória de Daniel Chapo e, em um gesto político significativo, impediu a entrada em seu território do líder da oposição moçambicana, Venâncio Mondlane — ação vista por analistas como uma demonstração de alinhamento entre os dois partidos no poder.

Mais do que diplomacia tradicional, o momento exige uma reflexão profunda sobre os rumos da governança em África. Moçambique, ao estreitar laços com Angola, tem diante de si a chance de fortalecer sua jovem democracia e promover desenvolvimento sustentável. Mas para isso, é essencial escolher bem o que importar: cooperação econômica e institucional, sim; práticas autoritárias, não.

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