A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), um dos principais partidos da oposição em Moçambique, atravessa uma fase crítica marcada por fortes tensões internas. Antigos guerrilheiros do partido acamparam na sede nacional, em Maputo, exigindo a saída imediata do presidente Ossufo Momade. As acusações vão desde má gestão até o fracasso na condução do partido nas recentes eleições.
Cerca de 50 ex-combatentes decidiram se instalar em frente à sede da RENAMO como forma de protesto. Eles afirmam que não pretendem deixar o local até que Momade entregue sua carta de renúncia. A liderança de Momade vem sendo contestada há anos, mas os descontentamentos atingiram um novo nível após os resultados das eleições de 9 de outubro, nas quais a RENAMO caiu de 60 para apenas 28 assentos parlamentares, perdendo inclusive o posto de maior partido da oposição para o recém-ascendente Podemos.
João Machava, um dos representantes do grupo de protesto e veterano da RENAMO desde 1989, falou à imprensa e destacou que a luta é pela sobrevivência do próprio partido. “Sofremos muito pela criação deste partido. Ainda temos marcas físicas da guerra e agora vemos tudo sendo destruído por uma liderança que não representa os ideais da RENAMO”, declarou.
Além das acusações de má gestão, Machava também critica decisões políticas controversas, como o cancelamento das eleições distritais, que segundo ele prejudicam a democracia interna e a credibilidade da organização.
Questionado sobre a legitimidade de Momade como sucessor de Afonso Dhlakama, histórico líder da RENAMO, Machava foi direto: “Ele não é digno. Está aqui apenas para fazer negócios. Não queremos negociantes, queremos líderes comprometidos com a causa.”
Os ex-combatentes, que hoje se consideram civis desmobilizados, garantem que o protesto é pacífico. “Não estamos armados. Estamos aqui como membros legítimos do partido, buscando uma solução política”, afirmou.
Outro ponto de revolta entre os manifestantes é o silêncio da liderança do partido diante da crise. Segundo eles, Momade se recusa a dialogar ou oferecer qualquer alternativa para o impasse. “Estamos ignorados. E já estamos cansados. Não vamos recuar enquanto ele continuar no cargo”, reforçou Machava.
Apesar do momento delicado, os manifestantes acreditam que o partido ainda pode ser salvo. Para isso, segundo eles, é fundamental a realização de um congresso interno que defina um novo líder. No momento, não há um nome de consenso, pois o objetivo imediato é a renúncia de Ossufo Momade. “Depois que ele sair, o partido pode se reorganizar e voltar aos trilhos”, concluiu Machava.
A RENAMO, outrora símbolo da oposição firme e combativa, agora enfrenta o desafio de manter sua relevância em meio a um cenário político em transformação e a uma crise de liderança sem precedentes.