Manuel Vicente, Baptista Muhongo Sumbe, José Pedro Benge e Fernando Osvaldo dos Santos, cidadãos angolanos envolvidos em um esquema de suborno internacional, continuam em liberdade, mesmo após condenações relacionadas a atos de corrupção na Suíça. O escândalo remonta a 2005 e 2006, quando os quatro estiveram envolvidos em subornos relacionados à petrolífera estatal angolana, a Sonangol, e à empresa SBM Offshore, uma multinacional holandesa do setor de engenharia para a indústria petrolífera.
Em 2005 e 2006, o Tribunal da Suíça condenou Didier Keller, então presidente da SBM Offshore, e outros executivos da companhia por pagamento de subornos que totalizaram 6,8 milhões de dólares. Esses pagamentos foram feitos à empresa panamenha Mardrill Inc., controlada por antigos funcionários da Sonangol, incluindo um sobrinho de Manuel Vicente, na época presidente da petrolífera. A SBM Offshore fez esses pagamentos para garantir contratos vantajosos com a Sonangol e outras estatais em países como Angola, Brasil e Guiné Equatorial.
Baptista Muhongo Sumbe: Ex-presidente da Sonangol Holdings e aliado de Manuel Vicente, Sumbe estava em ascensão dentro da Sonangol, com planos de substituí-lo na liderança. Ele foi identificado como o presidente da Mardrill Inc., a empresa usada para canalizar os subornos da SBM Offshore.
José Pedro Benge: Ex-diretor do gabinete de Manuel Vicente e antigo administrador da Sonagás, Benge também esteve envolvido no esquema, atuando como vice-presidente e tesoureiro da Mardrill Inc. Ele é sócio de Domingos Manuel Inglês na empresa INOVIA, relacionada a outro escândalo de corrupção em Angola.
**Fernando Osvaldo dos Santos**: Apontado como sobrinho de Manuel Vicente, Fernando Osvaldo dos Santos foi administrador do Grupo Vernon, um braço empresarial de Vicente e Sumbe. Ele também estava ligado à Mardrill Inc. como diretor, ajudando na operação do esquema de subornos.
A SBM Offshore foi parceira da Sonangol no consórcio PAENAL (Estaleiro Naval de Porto Amboim), onde a Sonangol tinha uma participação de 10%. Durante a parceria, a Sonangol pagou cerca de 300 milhões de dólares para obras de acabamento em uma plataforma flutuante (FPSO) que já estava pronta, o que levanta sérias suspeitas de corrupção e má gestão de fundos públicos.
Em seus processos judiciais, a SBM Offshore admitiu ter pago subornos para garantir vantagens ilícitas em diversos países, incluindo Angola, resultando em ganhos ilegais que ultrapassaram os 2,8 bilhões de dólares.
Apesar das condenações na Suíça e do reconhecimento do esquema pela SBM, as autoridades angolanas, incluindo a Procuradoria-Geral da República (PGR), ainda não se pronunciaram sobre a possibilidade de abrir investigações internas contra os envolvidos. O caso foi inicialmente denunciado em 2012 por Jonathan Taylor, ex-vice-diretor jurídico da SBM, que denunciou os esquemas após ser afastado da empresa.
Além disso, três organizações não-governamentais (ONGs) angolanas apresentaram uma queixa na justiça portuguesa, denunciando esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo antigos gestores da Sonangol, incluindo Manuel Vicente. A queixa foi apresentada junto ao Departamento Central de Investigação Penal (DCIAP) em Portugal.
Fernando Osvaldo dos Santos, economista formado pela Universidade de Manchester, tem uma carreira ligada ao setor petrolífero e foi cofundador do Grupo Vernon em 2000, uma empresa com estreitas relações com a Sonangol. A empresa de Santos apareceu em diversas investigações internacionais relacionadas a corrupção e subornos, refletindo seu envolvimento em esquemas financeiros ilícitos.
O escândalo de corrupção envolvendo a Sonangol, a SBM Offshore e vários cidadãos angolanos continua a ser um ponto sensível. Apesar das condenações internacionais, a impunidade dentro de Angola persiste, com pouca ação das autoridades angolanas para responsabilizar os envolvidos. A falta de um processo judicial interno e de medidas significativas de combate à corrupção levanta sérias questões sobre a transparência e a justiça no país.