No último dia 4 de abril, durante as comemorações oficiais do Dia da Paz e Reconciliação Nacional, o secretário provincial da UNITA em Benguela fez um pronunciamento que fugiu do tom comemorativo usual da data. Em vez de focar apenas nas celebrações pelos 23 anos de paz no país, o dirigente usou a ocasião para lançar um alerta sobre o que considera a ausência de “paz social” na província, abordando questões graves que afetam diretamente a população local.
A denúncia foi feita em frente a uma plateia composta por membros da sociedade civil, autoridades locais e representantes de vários partidos políticos, num ambiente formal de reflexão sobre os progressos e desafios da paz no país. Porém, o secretário provincial da UNITA aproveitou a oportunidade para destacar problemas alarmantes, com foco em três situações específicas que, segundo ele, merecem atenção urgente: a cólera, a fome e a prostituição infantil, especialmente em áreas como a Caota, onde, segundo suas palavras, cidadãos de nacionalidade chinesa estariam envolvidos na exploração sexual de menores.
“O povo de Benguela está a enfrentar uma guerra invisível”, afirmou o representante da UNITA, chamando a atenção para o sofrimento diário dos cidadãos da província. Ele relatou que a cólera continua a ceifar vidas de forma silenciosa, famílias inteiras estão à mercê da fome e, ainda mais grave, crianças estão sendo exploradas sexualmente em circunstâncias que refletem a falha das autoridades em garantir a proteção dos mais vulneráveis. Essas palavras foram duramente direcionadas à gestão local, que, segundo ele, tem falhado em enfrentar esses problemas com a seriedade que exigem.
Embora o discurso tenha gerado repercussão, até o momento as autoridades provinciais não se pronunciaram publicamente sobre as denúncias levantadas. Alguns órgãos da imprensa que entraram em contato com as autoridades locais receberam a promessa de que os casos seriam investigados, mas ainda não há uma resposta oficial concreta sobre os mesmos.
Este pronunciamento, feito em pleno dia de celebração da paz, destaca a persistência de desafios sociais que, para muitos, ainda dificultam a construção de uma paz verdadeira e completa em diversas regiões do país. O apelo do secretário da UNITA é um convite à reflexão sobre a realidade vivida por muitos cidadãos, que enfrentam dificuldades imensas no seu dia a dia, longe dos holofotes das celebrações.