Nesta semana, várias delegações estrangeiras que viajaram a Angola para participar da conferência internacional organizada pela Internacional Democrata Centrista (IDC), em Benguela, denunciaram terem sido ameaçadas pelo Serviço de Inteligência e Segurança de Estado (SINSE). De acordo com os relatos, o serviço secreto angolano e o governo provincial informaram que nenhum estrangeiro estava autorizado a participar em eventos políticos no país, em uma clara referência a um comício da UNITA, partido da oposição, que ocorria paralelamente à conferência da IDC.
As delegações relataram terem sido interrogadas e pressionadas a revelar os nomes das pessoas que participariam do comício da UNITA. Sentindo-se ameaçadas e intimidadas, os participantes estrangeiros expressaram receio, afirmando: “Estamos relutantes em colocar alguém em perigo ou expô-los a prisão.” Essas declarações refletem o ambiente tenso e opressor no qual os estrangeiros se encontraram, temendo represálias.
Os participantes começaram a chegar a Angola entre quarta e quinta-feira. Desde o início, as autoridades angolanas exigiram que não se envolvessem em atividades políticas, especialmente relacionadas à UNITA. O ex-candidato presidencial de Moçambique, Venâncio Mondlane, foi um dos primeiros a ser alvo de restrições. Após desembarcar de um voo vindo da África do Sul, ele foi impedido de entrar no país e deportado após ser detido por cerca de duas horas.
Já os ex-presidentes Ian Seretse Khama, do Botswana, e Andrés Pastrana Arango, da Colômbia, além do ex-primeiro-ministro do Lesoto, Moeketsi Majoro, enfrentaram uma situação igualmente difícil. Eles foram retidos por aproximadamente oito horas no aeroporto antes de serem autorizados a entrar em Angola. Durante o período de retenção, os três expressaram frustração e se queixaram de maus-tratos. De acordo com suas declarações, eles planejaram retornar aos seus países assim que encontrassem voos disponíveis.
A conferência da IDC, que ocorreu com o apoio da UNITA, contou também com o patrocínio de organizações internacionais como a Benthurst Foundation, a Fundação Konrad Adenauer e o World Liberty Congress. A IDC, da qual a UNITA é membro, realiza o evento anualmente em diferentes países, e neste ano escolheu Angola como sede.
Esse episódio destaca as tensões políticas e a restrição de liberdade de expressão em Angola, refletindo o ambiente de repressão que ainda afeta os atores políticos e diplomáticos que buscam interagir com a sociedade civil angolana, especialmente aqueles ligados à oposição. A situação levanta questões sobre a transparência e o respeito pelos direitos humanos no país.