Angola anunciou o início dos preparativos para um encontro entre o movimento armado M23 e a República Democrática do Congo (RDC), a ser realizado em Luanda. O encontro visa estabelecer um diálogo direto entre as delegações do M23 e do governo congolês, com o objetivo de buscar uma solução para o conflito no leste da RDC.
A iniciativa foi divulgada através da página oficial da Presidência angolana, após uma visita do Presidente da RDC, Félix Tshisekedi, a Luanda. Durante a visita, Tshisekedi reuniu-se com seu homólogo angolano, João Lourenço, que tem desempenhado um papel fundamental como mediador no conflito. A mediação de Angola no processo de paz foi reforçada com a designação de João Lourenço pela União Africana como facilitador para promover a paz e a segurança na região.
A reunião de negociações diretas entre o governo da RDC e o M23, que poderá acontecer nos próximos dias, marca um avanço importante no processo de pacificação. O especialista em Relações Internacionais, Adalberto Malú, comentou a importância desta iniciativa: “Este é um desenvolvimento inédito na mediação do conflito. Até agora, a falta de um canal direto de diálogo entre as partes era um dos maiores obstáculos à pacificação, considerando o histórico de desconfiança e as visões antagônicas das partes envolvidas.”
Apesar da alta expectativa, Malú destaca que o encontro será apenas um passo inicial dentro de um processo mais amplo e complexo. “A expectativa é alta, mas é importante ter cautela. Este é apenas o começo e, embora o diálogo seja necessário, é improvável que haja concessões imediatas. O sucesso do processo dependerá da capacidade das partes de se comprometerem com soluções que atendam às necessidades tanto do governo congolês quanto do M23”, alertou.
A reunião entre João Lourenço e Félix Tshisekedi, realizada no mês passado em Luanda, já havia tratado da situação no terreno e das recentes ações diplomáticas, como o Conselho de Paz e Segurança da União Africana em Adis-Abeba, na Etiópia. O governo angolano tem se mostrado cada vez mais comprometido em garantir uma mediação eficaz e facilitar o entendimento entre as partes.
O M23, que é composto principalmente por tutsis, iniciou sua atividade armada em 2021, após um período de calma. Desde então, o grupo tem avançado pelo território congolês, tomando importantes cidades como Goma, no Kivu do Norte, e Bukavu, na capital estratégica do Kivu do Sul. O M23 também controla áreas ricas em minerais valiosos, como ouro e coltan, essenciais para a indústria tecnológica, especialmente para a fabricação de dispositivos móveis.
Além disso, desde o início de março, o grupo também ocupou o distrito de Kaziba, a cerca de 45 quilômetros de Bukavu. Estima-se que mais de 8.500 pessoas tenham perdido a vida devido à violência do conflito, e cerca de 600.000 pessoas foram deslocadas desde o recomeço das hostilidades.
Este cenário de violência tem gerado uma crise humanitária e alimentado a tensão na região, com a comunidade internacional, incluindo a ONU, pressionando por uma resolução pacífica. O apoio de Ruanda ao M23, alegadamente fornecido segundo países como EUA, Alemanha e França, também tem sido um ponto controverso e central para as negociações.
Com a presidência rotativa da União Africana desde fevereiro de 2025, Angola continua a desempenhar um papel crucial na mediação do conflito. O Presidente João Lourenço, como facilitador designado pela União Africana, tem trabalhado incansavelmente para criar um ambiente de diálogo, com o objetivo de resolver um dos conflitos mais prolongados e complexos do continente africano.
Enquanto as negociações diretas entre as partes se preparam para começar, a comunidade internacional observa com atenção, esperando que este encontro em Luanda seja um passo significativo para a paz duradoura na RDC e na região dos Grandes Lagos.