A recente divulgação de uma suposta tentativa de desestabilização do regime angolano, envolvendo supostos contatos entre a UNITA, a FLEC e grupos terroristas, tem gerado grande debate no país. No entanto, muitos acreditam que por trás dessas alegações há uma montagem grosseira, orquestrada por um regime cada vez mais descredibilizado, sem a capacidade de esconder suas falhas.
Osvaldo Franque Buela, em um artigo de opinião, critica abertamente a forma como os serviços secretos angolanos tentam manipular a realidade. Para ele, enquanto o regime do MPLA ainda conseguiu criar uma certa fachada de “sofisticação” nos tempos de José Eduardo dos Santos, o governo atual, sob a liderança de João Lourenço, não consegue mais esconder suas falhas. Buela argumenta que a montagem dessas falsas acusações não tem mais a “elegância” de antigamente, e hoje a situação é mais grotesca, sendo alvo de risos e desdém pela população.
O autor acredita que essas acusações não são apenas uma tentativa de manipulação política, mas uma estratégia para desestabilizar a oposição e aumentar a repressão, especialmente em Cabinda. À medida que as eleições se aproximam, Buela alerta que as tensões irão aumentar, com o regime recorrendo à “fraude” como última tentativa de manter o poder. Ele também aponta a legalização do partido de Abel Chivukuvuku, que recentemente fundou a FPU, como um possível ponto de divisão dentro da oposição. No entanto, Buela expressa ceticismo sobre a viabilidade dessa união, acreditando que essa tentativa de coligação eleitoral pode enfraquecer ainda mais a oposição, permitindo que o regime use a divisão para avançar com suas manobras.
Em relação às acusações de envolvimento da FLEC (Frente de Libertação do Enclave de Cabinda) com os chamados “terroristas”, Buela critica a ingenuidade de quem minimiza a importância desse movimento, tratando-o como algo do passado. Para ele, o regime tenta usar a FLEC e outros grupos como um bode expiatório para justificar uma repressão crescente, especialmente em Cabinda, onde a situação social e política continua a ser precária.
Além disso, Buela questiona as escolhas estratégicas do governo, como a solicitação de ajuda militar dos Estados Unidos, apesar de Angola enfrentar sérios problemas sociais e econômicos internos. Ele vê essas manobras como uma tentativa de desviar a atenção das verdadeiras questões do país, que incluem a falta de infraestrutura e o aumento da pobreza.
O artigo também faz uma crítica direta aos líderes militares angolanos, como Garcia Miala, e aos serviços de segurança do país. Buela acusa-os de incompetência e cegueira política, sugerindo que suas ações são uma ameaça à paz e ao desenvolvimento de Angola.
No final, Buela reforça a ideia de que nenhum poder é eterno. Ele lembra aos responsáveis pela crise política em Angola que o povo não pode ser mantido em submissão para sempre e que a história cobrará uma conta. O autor encerra sua reflexão com uma mensagem de esperança para o futuro de Angola e de Cabinda, desejando que o país supere sua atual crise.
Como refugiado político na França, Osvaldo Franque Buela traz à tona questões fundamentais sobre o futuro da política em Angola, criticando a manipulação do regime e apontando o que considera como erros estratégicos que podem, eventualmente, resultar na queda do atual governo.