A prisão de Saydnaya, localizada a poucos quilômetros de Damasco, na Síria, ficou tristemente famosa por sua brutalidade e pelo sofrimento de milhares de prisioneiros sob o regime de Bashar al-Assad.
Durante décadas, ela foi um símbolo do autoritarismo e da repressão extrema, servindo como o principal centro de detenção para opositores do regime e outros considerados inimigos do estado.
A prisão de Saydnaya foi descrita pela Amnistia Internacional em 2017 como um “matadouro humano”. Desde o início da guerra civil síria, em 2011, milhares de pessoas foram detidas, torturadas e executadas nesse local, em condições desumanas. De acordo com relatos de sobreviventes, os métodos de tortura eram tão cruéis que muitos presos morreram devido à violência, fome e falta de cuidados médicos.
A Amnistia Internacional denunciou o que chamou de “uma verdadeira política de extermínio” na prisão de Saydnaya. Entre 2011 e 2015, cerca de 13.000 pessoas foram enforcadas, muitas em sessões em massa realizadas em segredo, geralmente durante a noite. As execuções aconteciam após julgamentos fantoches, que não duravam mais do que alguns minutos. Os corpos das vítimas eram frequentemente triturados ou queimados, desaparecendo de forma brutal.
Originalmente criada na década de 1980, a prisão de Saydnaya começou a receber prisioneiros políticos após o início do governo de Hafez al-Assad, pai de Bashar. Durante o regime de Bashar, tornou-se o centro de repressão política mais temido do país, com a polícia militar síria e os serviços secretos administrando o local.
Dentre os 30.000 prisioneiros estimados que perderam suas vidas entre 2011 e 2018 devido a tortura, execuções e negligência médica, muitos estavam em Saydnaya. Após a revolta popular de 2011, a prisão se tornou o principal centro de detenção de opositores políticos, sendo uma verdadeira “casa de horrores”, conforme descreveram os sobreviventes.
O complexo prisional de Saydnaya, de aproximadamente 1,4 quilômetros quadrados, era uma fortaleza de terror e segredo. Ele se dividia em dois grandes edifícios: o Edifício Branco, destinado a oficiais militares suspeitos de traição, e o Edifício Vermelho, que abrigava principalmente opositores políticos, inclusive ativistas, jornalistas e suspeitos de envolvimento com grupos islamistas.
Relatos de sobreviventes e ex-prisioneiros falam de uma prisão com celas superlotadas e condições insuportáveis. Os prisioneiros passavam meses ou até anos em confinamento solitário, sem acesso a luz solar ou cuidados médicos. As execuções, em massa, aconteciam regularmente nas noites de segunda e quarta-feira, com corpos sendo queimados ou esmagados em prensas.
Há rumores de que Saydnaya possui celas subterrâneas onde dezenas de milhares de pessoas poderiam estar detidas. Alguns especialistas e ativistas afirmam que prisioneiros foram mantidos em condições ainda mais brutais, trancados em andares subterrâneos inacessíveis. No entanto, a Associação dos Detidos e Desaparecidos de Saydnaya (ADMSP) refutou essas alegações, dizendo que o edifício estava vazio e sem indícios de tais condições.
Enquanto isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que mais de 100.000 pessoas desapareceram na Síria desde o início do conflito, com muitos desses desaparecimentos possivelmente relacionados com Saydnaya.
Em dezembro de 2024, com a queda do regime de Bashar al-Assad, os rebeldes libertaram muitos dos prisioneiros que ainda estavam vivos. De acordo com informações dos Capacetes Brancos, uma organização humanitária que trabalha na Síria, entre 20.000 e 25.000 prisioneiros foram libertados. No entanto, ao entrarem nas instalações, as equipes de resgate encontraram corpos em fornos e testemunhos de prisioneiros que passaram por terríveis torturas, incluindo violações e choques elétricos.
A prisão de Saydnaya, que durante décadas foi um símbolo do terror e da repressão do regime Assad, agora serve como um lembrete sombrio do custo humano de uma ditadura implacável. Para muitos sírios, a libertação dos prisioneiros e a queda do regime de Assad marcam o início de um novo capítulo na luta pela justiça e pela dignidade. Mas, para os sobreviventes e para as famílias dos desaparecidos, o pesadelo de Saydnaya nunca será facilmente esquecido.