Luanda – O discurso proferido por João Manuel Gonçalves Lourenço durante a cerimônia de abertura do IX Congresso da JMPLA (Juventude do MPLA) tem gerado debates sobre a possível influência de assessores brasileiros na sua elaboração. De acordo com uma análise detalhada, algumas expressões e erros gramaticais indicam que o discurso pode ter sido parcialmente escrito por profissionais do Brasil, como já ocorreu em outros momentos com o presidente angolano.
Logo no início do discurso, Lourenço descreve a JMPLA como “forjador dos quadros de que o Partido e a Nação necessitam para o seu desenvolvimento”. Um especialista em língua portuguesa apontou que a palavra “forjador” é incomum no contexto angolano. Normalmente, a frase seria construída de forma diferente: “a JMPLA é a forja de quadros do partido…”, o que é mais comum entre políticos e acadêmicos de Angola.
Outra passagem que chamou atenção foi quando Lourenço afirmou: “Os membros da JMPLA e, no geral, os jovens angolanos, nunca defraudaram a confiança e as expectativas neles depositadas pelo Partido e pela Nação angolana.” O analista apontou que a forma correta seria “neles depositados”, já que o objeto da frase são “os jovens angolanos”, e não “expectativas”.
No sétimo parágrafo, o líder do MPLA destacou várias áreas em que os jovens de Angola têm se destacado, incluindo “a defesa da pátria, na economia, na cultura, na educação e ensino, na ciência, na inovação, no desporto, na construção da paz e da reconciliação nacional, na diplomacia e em outros domínios não menos importantes”. O especialista explicou que a expressão correta seria “noutros domínios”, uma construção mais comum em Angola do que “em outros domínios”, que é mais utilizada no Brasil.
Além disso, foi notada uma imprecisão quando João Lourenço mencionou que “o país completa dentro de dias cinquenta anos de Independência Nacional”. Essa frase soa estranha, já que o evento ocorrerá apenas em 2025, não “dentro de dias”, como foi indicado no discurso.
O discurso também contém algumas outras expressões que são mais típicas do português brasileiro, como “respeito aos velhos”, quando, em Angola, seria mais natural dizer “respeito aos mais velhos”. No campo esportivo, Lourenço disse que “desde o CAN da Côte d’Ivoire, que nossa seleção descolou”, algo que soa estranho no contexto angolano, já que a expressão “a seleção descolou” não é comum no país. Além disso, a referência ao “CAN de Marrocos” deveria ser “CAN do Marrocos”, como é o costume em Angola.
Outro detalhe que chama atenção são as omissões de artigos definidos (como “o”, “a”, “os”, “as”), que seriam necessárias para a correção gramatical das frases. Também há várias palavras escritas segundo o acordo ortográfico que ainda não foi implementado em Angola, como “proteção” em vez de “protecção” e “tênis” em vez de “ténis”.
A análise sugere que essas peculiaridades podem indicar que assessores brasileiros estiveram envolvidos na redação do discurso, uma prática que já ocorreu anteriormente. Além disso, o discurso parece abordar mais questões globais e universais, ao invés de focar em preocupações locais da juventude angolana, algo que poderia mobilizar mais diretamente os membros da JMPLA para resolver questões cotidianas da sociedade.
Por fim, João Lourenço mencionou a seleção argentina de futebol, fazendo referência aos “gigantes do futebol mundial Diego Maradona e Lionel Messi”. O analista apontou que a referência a Maradona, já falecido, junto a Messi, pode gerar confusão, já que isso sugere uma comparação entre um jogador ainda vivo e outro que não está mais entre nós. A fala de Lourenço é vista como um exemplo do uso impreciso de figuras do futebol para reforçar seu discurso, sem considerar a morte de Maradona.
Esses detalhes revelam que, por trás do discurso político, há influências externas e uma adaptação de linguagens que podem nem sempre refletir a identidade e a realidade local.