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Como João Lourenço está ajudando a moldar o legado de Jonas Savimbi e o futuro do MPLA

Luanda – João Lourenço, o atual presidente de Angola e líder do MPLA, tem sido uma figura central na reabilitação da imagem de Jonas Savimbi, fundador da UNITA. Nenhum outro político angolano fez tanto por Savimbi quanto Lourenço, ao facilitar o resgate de seu legado, que sempre esteve envolto em controvérsias devido à sua aliança com o regime do apartheid sul-africano. Desde que assumiu o poder, o presidente tem se dedicado a ações que promovem o reconhecimento de Savimbi e de sua família, ao mesmo tempo que tem uma postura distante em relação ao seu antecessor, José Eduardo dos Santos (JES).

Em setembro de 2018, logo após substituir José Eduardo dos Santos, Lourenço deu início a esse movimento ao cuidar pessoalmente do traslado dos restos mortais de Arlindo Ben Ben, sobrinho de Savimbi e antigo general da UNITA. O gesto de receber com honras militares o corpo de Ben Ben contrastou fortemente com o tratamento dado ao próprio ex-presidente JES, falecido em 2022, cujo funeral não teve o mesmo nível de reverência por parte do governo.

A reabilitação de Savimbi continuou em junho de 2019, quando as ossadas do fundador da UNITA foram finalmente enterradas em sua terra natal, no Bié. Esse processo envolveu negociações diretas entre João Lourenço e a família de Savimbi, resultando em um funeral digno, de acordo com os desejos da família. A abordagem do presidente, próxima às pretensões da UNITA, foi vista como um esforço pessoal, sem consulta às estruturas partidárias.

Além disso, Lourenço facilitou a criação da Fundação Jonas Savimbi, legalizada após desentendimentos iniciais entre o governo e seus promotores. A fundação, que visa oferecer bolsas de estudo a jovens necessitados, recebeu apoio financeiro do Estado, mais uma demonstração do comprometimento de Lourenço com o legado de Savimbi.

Curiosamente, Lourenço também tomou a decisão de renomear uma avenida em Luanda em homenagem a Savimbi, reforçando ainda mais a sua influência na preservação da memória do líder da UNITA. Essas ações, somadas à proximidade com Isaías Samakuva, coordenador da fundação e herdeiro político de Savimbi, indicam uma relação de confiança entre o presidente angolano e a oposição.

Por outro lado, a abordagem de Lourenço em relação a José Eduardo dos Santos tem sido marcada por indiferença. As referências ao ex-presidente são frequentemente omitidas em eventos oficiais, suas imagens foram removidas de edifícios do MPLA, e seu legado, apagado de maneira gradual. Essa postura, aliada à sua aproximação com o Ocidente e o distanciamento da Rússia e China, sugere uma nova direção na política externa angolana, mais alinhada ao legado de Savimbi do que ao de JES ou Agostinho Neto.

Dentro do MPLA, essa divergência tem gerado tensões. Os defensores de José Eduardo dos Santos resistem à primazia dada a Savimbi, vendo-a como uma tentativa de obscurecer os feitos do homem que liderou o país e o partido por quase quatro décadas. Para Lourenço, esse cenário representa um desafio à sua liderança, especialmente em um contexto de crescente pobreza e repressão, que seus opositores internos exploram para enfraquecer sua posição.

O presidente busca estratégias para garantir sua continuidade no poder, enquanto equilibra a reabilitação de Savimbi com a repressão aos “eduardistas”. Essa dualidade reflete a complexidade da política angolana atual, onde o futuro do MPLA parece estar em jogo. Enquanto os filhos de Savimbi são acolhidos pelo governo, os herdeiros de JES enfrentam marginalização, o que intensifica a luta interna no partido.

A questão central que emerge dessa “guerra civil” no MPLA é se o partido conseguirá se reconectar com as necessidades do povo ou se continuará imerso em disputas de poder. Enquanto isso, Lourenço tenta se posicionar como o líder capaz de controlar essa transição, ao mesmo tempo que cuida de sua própria sobrevivência política.