Organizações não governamentais que lutam pela defesa de “crianças de rua” lutam com enromes dificuldades para ajudarem essas crianças muitas delas já nessas condições para fugirem a abusos e violência.
Fonte: VOA
Castro Yossina, responsável do Instituto de Apoio à Criança Vulnerável (IACV) disse à VOA que muitas destas crianças têm sido acolhidas pela sua instituição com o fito de receberem educação informal e formação profissional para os adolescentes visando afastá-los da delinquência.
Ele falava após o Instituto Nacional da Criança (INAC) ter dado a conhecer novos dados de violência contra menores, incluindo trabalho infantil em propriedades agricolas
Yossina diz que na falta de apoios por parte do Governo a sua organização, que está representada no Huambo e em Luanda, vai fazendo o que pode.
“Pedimos à sociedade e às igrejas no sentido de tudo fazerem para alguma coisa para essas crianças não irem para a delinquência”, sustentou aquele líder associativo.
O INAC revelou nesta segunda-feira, 8, a ocorrência de 270 casos de violência contra menores, em apenas uma semana.
Os casos de fuga à paternidade e disputa de guarda lideraram com 123 ocorrências, segundo a porta-voz do INAC.
Citada pela imprensa pública, Rosalina Domingos apontou as províncias do Bengo, Benguela, Luanda, Namibe, Moxico e Uíge como sendo as que tiveram mais registos, havendo dois casos de crianças abusadas sexualmente pelos seus progenitores.
Entre os casos consta igualmente o de 24 crianças, com idades entre os 11 e os 14 anos, resgatadas dentro de uma carrinha no Namibe.
Os menores eram transportados,de noite, de uma fazenda para outra, para trabalhos agrícolas, segundo Rosalina Domingos.
Estes dados juntam-se aos que o diretor do INAC, Paulo Kalesi, avançou em finais do ano passado que apontavam para um total de 13.055 crianças, em todo o país, vítimas de violência, no período de Janeiro a Outubro de 2023.
Kalesi tinha referido que a instituição registou um total de 993 casos de violação sexual em todo o país, entre os quais o de uma menina, de 11 anos, que foi violentada sexualmente pelo pai adoptivo, de 55 anos, no município do Kilamba Kiaxi.
O diretor do INAC tinha salientado ainda, o caso de duas irmãs, de 9 e 11 anos, que foram abusadas sexualmente pelo pai, de 49 anos, e o irmão, de 16 anos, no município de Luanda.
Kalesi tinha defendido que “as marcas físicas, emocionais e psicológicas de violência privam a criança da possibilidade de desenvolver todas as capacidades”.
“Quando repetido várias vezes, põe em causa os progressos necessários para a concretização dos Objectivos de Desenvolvimento, por isso, cada sociedade, independentemente das bases culturais, económicas e sociais, pode e deve pôr fim à violência contra a criança” , disse
Uma das consequências da violência contra a criança é o surgimento fenômeno de “crianças de rua” e o da delinquência juvenil, presentes em muitas cidades angolanas.
A secretária de Estado para a Família e Promoção da Mulher, Alcina Kindanda, assegurou recentemente que o Governo tem a criança vulnerável como prioridade, pois está numa condição que a sujeita a todo o tipo de práticas abusivas e violentas que precisavam ser travadas.
Falando na abertura de um seminário regional Huíla e Namibe, denominado “Município Amigo da Criança”, afirmou que a tarefa do Executivo está voltada ao cumprimento e à dinamização dos compromissos internacionais para com este grupo.
Sem revelar o número de crianças em condições de vulnerabilidade no país, sublinhou que cuidar desse grupo “é um dever cívico , mas também de amor e recai a cada família, Estado, sociedade civil, daí a necessidade de caminhar para a construção de um futuro seguro e promissor a favor destas”.