Entre as vítimas mortais há crianças e 26 pessoas ainda estão desaparecidas, disse hoje à televisão estatal Lourenço Machado, administrador do Instituto de Instituto de Transportes Marítimos de Moçambique (INTRASMAR).
O barco de pesca estava sobrecarregado e não tinha licença para transportar passageiros, acrescentou.
“De acordo com as informações, estariam 130 pessoas” no barco, “que não está vocacionado para transportar pessoas”, avançou também Silvério Nauaito, administrador da Ilha de Moçambique, ao canal STV, parceiro da DW.
Segundo Nauaito, as autoridades suspeitam que a sobrelotação terá sido o motivo do naufrágio.
Surto de cólera
Algumas pessoas viajavam para participar numa feira, enquanto outras tentavam “fugir de Lunga para a Ilha de Moçambique com medo de serem contaminadas pela cólera, que tem afetado a região”, noticiou a TV Diário Nampula.
Outras notícias citam o secretário de Estado da província, Jaime Neto, que disse à Televisão de Moçambique (TVM) que a maioria dos passageiros terá viajado para a ilha devido ao pânico causado pela desinformação sobre um surto de cólera.
Moçambique registou cerca de 15 mil casos e 32 mortes desde outubro passado devido à doença. Nampula é uma das zonas mais afetadas e registou um terço dos casos.
Buscas para encontrar desaparecidos
As autoridades do posto administrativo de Lunga, localizada a 189 quilómetros da cidade de Nampula, a capital provincial, continuam fazer diligências para localizar as pessoas que continuam desaparecidas.
As equipas de salvamento encontraram até agora cinco sobreviventes, mas as condições do mar estão a dificultar a operação.
“É uma situação complicada e posto administrativo de Lunga está a fazer algumas diligências para localizar outras pessoas que estavam na embarcação”, disse ainda Jaime Neto.
Os locais mais propensos à ocorrência de cólera
A cólera é uma doença bacteriana grave, contraída através do consumo de água e alimentos contaminados. A falta de saneamento básico e as fortes chuvas têm causado surtos desta doença em Moçambique.
As chuvas intensas que caíram em fevereiro e março causaram enchentes. As autoridades já previam a eclosão da cólera em alguns bairros, sobretudo periféricos. Foram estas chuvas que provocaram a estagnação de águas que propiciaram a eclosão da cólera, não só na cidade de Maputo, mas também em outras cidades de Moçambique.
O lixo e a lama propiciam a eclosão da doença. Estes ambientes com resíduos acumulados geralmente estão próximos das residências.
Nos mercados, o perigo da eclosão da cólera é visível. Na Praça dos Combatentes, popularmente conhecida por Xiqueleni, não há infraestrutura de saneamento. Esta é um dos maiores mercados informais de Maputo e, também, um dos locais mais perigosos para a eclosão da doença já que se acumula água suja nos mesmos locais onde se vendem alimentos para consumo.
Os alimentos são, muitas vezes, expostos no chão ou em locais que as pessoas podem facilmente pisar. Tal torna necessário uma boa higiente na preparação dos ingredientes, o que também é dificultado pela falta de saneamento.
Em alguns prédios mais antigos de Maputo é comum sentir-se o cheiro nauseabundo das águas que brotam dos esgostos improvisados. Estes são locais muito propícios à propagação da doença.
Em alguns sanitários públicos é notória a falta de higiene, sobretudo em escolas e hospitais muito frequentados por cidadãos. Neste sanitário de uma escola, denotam-se esforços para manter o local limpo.
Nos locais públicos, algumas pessoas também têm dificultado as ações das autoridades quando roubam torneiras, dificultando assim a higiene individual. Apesar do esforço em manter o local limpo, nota-se nesta imagem que as torneiras foram retiradas.
Há residentes nas imediações da maior lixeira do município de Maputo. Várias vezes ao dia são despejados resíduos no local. Nos arredores, veem-se residências de pessoas que convivem diariamente com esta situação.
As comunidades nos distritos municipais de Maputo desdobram-se em ações de limpeza para evitar a propagação da cólera. Todas as manhãs é visível o transporte de resíduos sólidos para os contentores de lixo.
Nem todos cidadãos têm acesso a água potável na cidade de Maputo. Contudo, fontanários têm sido bastante importantes no abastecimento do população com todas as medidas de higiene respeitadas.
Valas de drenagem como esta são raras nos guetos de Maputo. Em tempos de chuva, a vala escoa água para zonas baixas. Isso evita as enchentes que provocam cólera.