Livros, jornais, cartazes, autocolantes e registos sonoros e audiovisuais estão entre o acervo da revolução que se encontra distribuído por vários locais.
Na madrugada de 25 de Abril de 1974, a “Operação Fim de Regime”, liderada por jovens capitães, pôs fim a 48 anos de ditadura em Portugal. Meio século depois, o País continua sem um espaço nacional que permita visitar e conhecer parte dos milhares de documentos herdados da Revolução dos Cravos.
Por sugestão da Associação 25 de Abril, criada pelos militares que desencadearam a revolução, por fim será criado um Centro Interpretativo da Revolução, no Terreiro do Paço, em Lisboa. Mas a sua abertura só será realizada dentro de dois anos, em 2026, no período final das comemorações do meio século da revolução.
Para a sua concretização, o Estado vai ceder as instalações do Ministério da Administração Interna e financia o projeto. Por sua vez, a Câmara Municipal de Lisboa vai assegurar as obras na praça e a gestão do equipamento cultural, através da Associação de Turismo de Lisboa.
Nos cinquenta anos de celebração da democracia, o Correio da Manhã procurou saber onde está, neste momento, a maior parte do património de Abril.
A Universidade de Coimbra é a autêntica caixa-forte do património da revolução da liberdade. O Centro de Documentação 25 de Abril (CD25A) reúne mais de cinco mil documentos catalogados, entre livros, folhetos, artigos e publicações periódicas; cerca de 300 fundos de arquivo tratados; mais de 7500 fotografias; aproximadamente 5 mil cartazes e 900 pastas, contendo recortes de imprensa; para além de um número muito próximo de 45 mil panfletos, de cerca de 6 mil autocolantes e de, pelo menos, 2.600 registos sonoros e audiovisuais.
“Somos um dos maiores arquivos nacionais sobre história política recente de Portugal. São os papéis privados de militantes, políticos e militares que nos diferenciam”, refere Natércia Coimbra, diretora-adjunta do CD25A.
O CD25A, criado em dezembro de 1984, visa organizar e pôr à disposição da investigação científica o valioso material documental disperso pelo País e pelo estrangeiro, sobre a transição democrática portuguesa.
O CD25A possui mais de três milhões de documentos, entre livros, jornais e revistas, panfletos e comunicados, arquivos, fotografias, cartazes e documentos áudio e vídeo.
Militares guardam arquivo em Lisboa
Na rua da Misericórdia, em Lisboa, os militares que fizeram a Revolução dos Cravos conservam parte importante dos documentos de Abril, num acervo de filmes, cartazes, documentos ou cartas referentes à luta pela liberdade.
Nos 50 anos da revolução, a associação conta com uma exposição dos cartazes que estiveram colados e espalhados por todas as cidades, vilas e aldeias.
“Os cartazes eram a imagem do sentimento que prevalecia nas pessoas no pós 25 de Abril”, explica o vice-presidente da Associação 25 de Abril, Coronel Aprígio Ramalho.
Criada pelos militares envolvidos no 25 de Abril, a associação tem um perfil cultura e cívico, não sendo uma organização militar.
Com a revolução em curso, a imprensa de imediato colocou na rua várias edições sobre o primeiro dia de liberdade. O País inteiro queira ler nos jornais, ouvir na rádio ou ver na TV o desenrolar da revolução. Parte deste património está na Hemeroteca Municipal de Lisboa.
“Os jornais da época são fontes primárias da maior importância para fazer a história dos acontecimentos”, explica Álvaro Costa de Matos, diretor da Hemeroteca Municipal de Lisboa.
A hemeroteca conta com um dossier digital em que é possível aceder a esses conteúdos. Também em Lisboa, na Biblioteca Nacional de Portugal e na Torre do Tombo é possível consultar jornais da época.
A Arte em Abril
Num dos exemplos da expressão artística do 25 de Abril, a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva conserva o original de um dos dois cartazes de Maria Helena Vieira da Silva. A Coordenadora da Casa-Atelier, Inês Eva, conta como surgiram os cartazes.
A sugestão para a criação dos cartazes partiu da escritora Sophia de Mello Breyner Andresen. A pintora acatou a sugestão e o resultado está em exposição na fundação.
Cartazes do 25 de Abril de Maria Helena Vieira da Silva
Outros locais para ver a Arte de Abril são a Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, ou o Centro de Arte Moderna Gulbenkian, em Lisboa, com reabertura prevista para 20 de setembro.
Fundação Mário Soares
A Fundação Mário Soares e Maria Barroso acolhe um dos mais extensos e relevantes arquivos políticos portugueses do século XX, compreendendo documentação pessoal e política de Mário Soares e de Maria Barroso e diversos acervos essenciais para o conhecimento da História de Portugal, da Europa e do Mundo. Temas como o republicanismo, colonialismo, anticolonialismo, oposição à ditadura, transição democrática e construção europeia estão presentes no arquivo da fundação.