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China usou um disfarce para entrar em Angola

Ao longo de mais de uma década, Sam Pa abriu as portas de África, particularmente de Angola, à China. Nesses tempos, Pa era visto com um homem de negócios com fortes ligações ao Governo do seu país. Agora ficou a saber-se que sempre trabalhou secretamente para o Partido Comunista (PC) chinês.

Quem o diz é Lo Fong Hung, sua parceira de negócios ao longo de todos estes anos. Já Sam Pa, que se diz ter nascido na China em 1958, foi viver para Hong Kong na adolescência e obteve mesmo a cidadania angolana, está desaparecido desde 2015, ano em que foi preso pelas autoridades chinesas no decurso de uma investigação sobre corrupção.

As suas diversas participações empresariais ficaram na posse de Veronica Fung, a qual mantém uma disputa judicial com Lo Fong Hung. O processo, que corre em Hong Kong, teve início em 2020 e ainda está em curso. Lo Fong Hung, tal como o Negócios avançou na passada semana, assumiu a intenção de devolver património e dinheiro a Angola, na sequência de uma reunião em Pequim, realizada a 16 de maio do ano passado. Aliás, Lo Fong Hung é uma velha conhecida dos angolanos.

Outros documentos revelam a sua participação numa reunião realizada a 14 de março de 2016, em Singapura, onde estiveram presentes o então presidente da Sonangol, Francisco de Lemos José Maria, e o general Leopoldino Fragoso do Nascimento (“Dino”), que se encontra acusado pelas autoridades judiciais angolanas dos crimes de peculato, associação criminosa e branqueamento de capitais.

O confronto nos tribunais entre Lo Fong Hung e Veronica Fung é revelador do “modus operandi” da China. Nos relatos, divulgados pela Radio Free Asia (RFA), Lo explicou que o Governo chinês utilizou várias empresas de fachada para entrar em Angola. “Eu estava a trabalhar diretamente para o Comité Central do partido”, garantiu ao Tribunal.

No caso angolano, isto vale por concluir que empresas como o China International Fund (CIF) ou a China Sonangol International Limited (CSIL) tiveram o dedo do PC chinês. “Quando fomos obter os recursos petrolíferos, em 2000, [Lo e Pa], tratava-se de uma ação para quebrar o padrão estratégico existente dos Estados Unidos e dos países ocidentais em África e em Angola, pelo que tínhamos de manter segredo” contou Lo Fong Hung em tribunal, citada pela RFA.

Ou seja, Lo e Pa usaram o disfarce de um empreendimento comercial para contornar eventuais objeções estratégicas dos países rivais da China. As alegações de Lo Fong Hung empurram assim, de forma direta, o Governo chinês para o epicentro da corrupção em Angola, sendo expectável que os advogados dos generais “Dino” e Manuel Hélder Vieira Dias (“Kopelipa”) o possam trazer à colação nos processos que envolvem os seus clientes.

Ou seja, sendo as empresas extensões do PC chinês, isso significa que o próprio Estado teve responsabilidades diretas nos alegados casos de corrupção que estão a ser julgados em Angola. Atualmente, a dívida de Angola à China situa-se em 19 mil milhões de dólares, constituindo um pesado encargo para o Estado. A putativa responsabilidade da China em situações desta natureza ajuda a abrir o debate sobre a legitimidade dos montantes reclamadas por Pequim.

Tal como o Negócios referiu no artigo “O mistério dos ativos que a China entregou a Angola”, publicado a 14 de fevereiro, Lo Fong Hung assumiu, sem reservas, junto de representantes oficiais de Angola, estar mandatada pelo Governo chinês para resolver os problemas relacionados com a CISL, resultantes de uma dívida à Sonangol de 964 milhões de dólares por fornecimento de petróleo.

Nesse encontro marcaram presença, entre outros, Dalva Costa, representante da Casa Civil do Presidente da República, João Lourenço, e Eduarda Neto, Procuradora-geral ajunta. No seu testemunho, em tribunal, Lo explica como as autoridades chinesas usaram Sam Pa. No início da década de 2000 “estava profundamente endividado e o seu passaporte tinha sido confiscado”.

As dívidas de Sam Pa e a sua reputação duvidosa deixavam o Governo de Pequim nervoso, mas os seus “contactos de alto nível em Angola” fizeram com que o país se dispusesse a usá-lo. “Desde que cooperasse comigo, o Governo chinês dar-lhe-ia os meios políticos e os fundos necessários. O montante total destes fundos deve ser calculado em dezenas de milhares de milhões de dólares” adiantou Lo Fong Hung, segundo a RFA.

Fonte: Negócios