O incidente ocorrido no dia 13 de março no aeroporto internacional 4 de Fevereiro, em Luanda, revelou um enredo digno de um curta-metragem. De fato, poderia até ser intitulada “Uma História Cabeluda no 4 de Fevereiro de Luanda”. O que se passou foi uma situação absurda, onde figuras de destaque internacional, como ex-presidentes e ex-vice-presidentes, foram tratadas com total desrespeito e humilhação, apenas pelo fato de terem sido convidadas pela UNITA para um evento na província de Benguela.
O evento começou pouco depois do meio-dia de quinta-feira, quando cerca de vinte figuras, incluindo ex-líderes políticos e até um ex-candidato à presidência de Moçambique, desembarcaram em Luanda. Eles haviam cumprido todos os procedimentos migratórios, mas ao invés de seguir com suas atividades, foram conduzidos a uma sala do aeroporto onde permaneceram por mais de sete horas, sem alimentação, água ou qualquer conforto. A situação se arrastou sem explicação, deixando todos em uma situação desconfortável e, acima de tudo, desumana.
Como era de se esperar, muitos tentaram racionalizar o ocorrido. Um exemplo disso foi o comentarista Albino Pakissi, que, ao tentar ser imparcial, revelou um claro viés ao afirmar que a UNITA também havia falhado. A seguir, deparei-me com um artigo de Ramiro Aleixo, onde o decano do jornalismo angolano se referia ao “excesso de zelo” do Executivo, mas também responsabilizava a UNITA pela comunicação tardia às autoridades competentes.
Aqui, é importante analisar com mais profundidade a visão de ambos. Primeiramente, a norma estipula que a solicitação para uso de salas de protocolo deve ser feita com pelo menos 24 horas de antecedência. Se a carta foi enviada nos dias 11 ou 12, estava dentro do prazo exigido. A regra existe exatamente para garantir que a administração possa lidar com esses casos com eficiência e de maneira pontual.
Em segundo lugar, mesmo que a UNITA tenha se atrasado em comunicar, o que ocorreu foi que figuras de alto escalão foram mantidas retidas no aeroporto durante horas, sem as mínimas condições de conforto. Não importa se houve atraso na solicitação ou não: é absolutamente inaceitável que seres humanos sejam tratados com tanto desrespeito. Não é apenas uma questão de protocolo; é uma questão de humanidade.
Mais preocupante ainda, todos os envolvidos sabiam perfeitamente que esse incidente causaria uma péssima impressão para o Estado angolano. Afinal, estamos falando de pessoas que ocupam posições de destaque em seus países. O tratamento dado a essas personalidades poderia ser visto como um reflexo da maneira como o Estado angolano lida com os seus próprios cidadãos e com a comunidade internacional. O simples bom senso poderia ter evitado esse embaraço e humilhação desnecessária. Caso o objetivo fosse barrar a entrada de alguém como o ex-candidato moçambicano Venâncio Mondlane, bastava explicar a situação de forma diplomática e resolver a questão sem estender a crise.
No entanto, o que de fato ocorreu foi uma atitude autoritária que desconsiderou o valor e o respeito devido a essas figuras políticas. Pior ainda, é inimaginável que qualquer líder político, mesmo após o término de seu mandato, tenha de passar por uma situação tão degradante, simplesmente porque suas opiniões ou ações políticas podem ter sido contrárias a certos interesses.
A reflexão que fica é de que, independentemente de questões formais de protocolo, o que importa é o respeito pelos indivíduos e pelas instituições que representam. O que aconteceu no aeroporto de Luanda não é apenas um erro administrativo; é um erro de julgamento e de ética política. Essas figuras, de seus respectivos países, são importantes por diversas razões e representam grupos e segmentos essenciais para as suas nações. Em Angola, estamos chegando a um ponto de saturação com a hipocrisia e a manipulação dos políticos, que fazem promessas e, na prática, tomam atitudes que só geram desconfiança e desrespeito.
Este tipo de política de manipulação já deu resultados por algum tempo, permitindo que pessoas sem preparo suficiente chegassem a cargos de relevância. Porém, hoje, o cenário parece ter mudado. Os angolanos estão cada vez mais desconfiados desses truques políticos e, pior, começamos a ver uma tendência preocupante: a crescente aceitação de grupos ou pessoas que não fizeram nada para merecer a confiança da população. O episódio do dia 13 de março é um claro exemplo de como algumas pessoas estão trabalhando contra a visão política do Presidente João Lourenço, dificultando sua governança e contribuindo para um ambiente de incerteza e instabilidade.
É imperativo que os líderes angolanos, e aqueles que buscam posições de poder, reconsiderem suas práticas e atitudes, para que, no futuro, possamos ter uma política mais transparente, respeitosa e voltada para o bem-estar de todos.