A crescente venda de bilhetes da TAAG em canais informais, a preços muito acima do habitual, está a gerar revolta entre passageiros que circulam entre Cabinda e Luanda. Enquanto persistem denúncias de falta de passagens nos canais oficiais, multiplicam-se intermediários que comercializam os bilhetes por valores que chegam aos 100 mil kwanzas, perante o silêncio das autoridades.
Nos pontos de venda oficiais, já não há bilhetes disponíveis para determinados períodos, e, segundo dados consultados, a classe económica para Luanda permanece esgotada até ao final de 2025. A companhia aérea nacional tem evitado prestar esclarecimentos públicos, o que aumenta o desconforto dos utentes.
Para o analista João Chimpolo Luzolo, o problema vai além da gestão da transportadora:
“Quando os bilhetes desaparecem dos canais oficiais e reaparecem no mercado paralelo, o cidadão sente-se desamparado. Trata-se de um sinal claro de fragilidade institucional”, afirmou à DW.
Num território que já enfrenta dificuldades de mobilidade, os habitantes de Cabinda descrevem a situação como uma violação do direito de circulação dentro do próprio país. Passageiros queixam-se de que viajar internamente se tornou mais difícil do que realizar viagens internacionais.
Francisco Ngimbi, um dos utilizadores frequentes da rota, relata o desespero generalizado:
“É mais fácil viajar para a Europa do que sair de Cabinda para Luanda. A população está cansada”, lamentou.
Um vendedor informal, que pediu anonimato, explicou o funcionamento do esquema paralelo: basta apresentar uma cópia do Bilhete de Identidade e pagar valores entre 40 mil e 100 mil kwanzas, dependendo da procura.
As autoridades angolanas recordam que Cabinda continua a ter quatro a cinco voos diários, com uma taxa de ocupação de aproximadamente 98%. Graças à política de subvenção, o fluxo de passageiros na rota Luanda–Cabinda cresceu de 87.458 em 2017 para quase 229 mil em 2024.
No discurso sobre o Estado da Nação, o Presidente João Lourenço anunciou que, até 2027, Angola receberá 15 novos Airbus A220-300, além de quatro Boeing 787-9 para reforçar o transporte de longo curso.
Mas, para residentes como Domingos Jeremias, o aumento da frota não resolverá o essencial:
“Mais importante do que trazer novas aeronaves é garantir fiscalização e punir práticas abusivas, além de permitir que outras companhias operem para aumentar a concorrência”, defendeu.
Enquanto persistirem o silêncio institucional e a ausência de ação concreta, os passageiros temem que o mercado paralelo continue a prosperar — elevando custos e ampliando a sensação de abandono entre os cidadãos de Cabinda.

