O setor diamantífero continua a ser um dos pilares fundamentais da economia angolana. Reconhecida como um dos maiores produtores de diamantes em África, Angola encontra nas suas pedras preciosas uma importante fonte de receitas, de investimento e de projeção internacional. No entanto, o grande desafio está em transformar essa riqueza natural em desenvolvimento sustentável e benefícios concretos para os cidadãos.
By: Orlando “Scócia”, Especialista em Comércio e Certificação de Diamantes
Desde o fim do conflito armado, em 2002, o comércio de diamantes consolidou-se como uma das principais forças motrizes da economia nacional. Estima-se que o setor represente entre 5% e 7% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo o segundo maior gerador de divisas do país, logo a seguir ao petróleo. Além das exportações, a atividade tem impulsionado a criação de empregos, a construção de infraestruturas e o aumento do investimento estrangeiro, sobretudo nas províncias da Lunda Norte e Lunda Sul, que concentram as maiores reservas diamantíferas do território.
Contudo, a dependência excessiva de recursos minerais levanta preocupações sobre a sustentabilidade económica. De acordo com diversos economistas, países ricos em recursos naturais enfrentam, por vezes, a chamada “maldição dos recursos” — uma tendência para o baixo crescimento e fragilidade institucional quando a riqueza mineral não é acompanhada por políticas de diversificação e boa governação.
O Executivo angolano tem procurado inverter este cenário. A adesão ao Processo de Kimberley, que assegura a comercialização ética e rastreável dos diamantes, reforçou a credibilidade internacional de Angola. Ainda assim, persistem desafios, nomeadamente o combate ao comércio informal, o controlo da produção artesanal e a integração de cooperativas mineiras no sistema formal.
Um dos pontos críticos é a reduzida industrialização do setor. A maioria dos diamantes angolanos é exportada em bruto, o que diminui o valor agregado retido internamente. Especialistas defendem a criação de polos industriais de lapidação e joalharia, capazes de transformar o país num exportador de produtos acabados e de alto valor, gerando emprego qualificado e impulsionando o crescimento regional.
Nos últimos anos, o Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás (MIREMPET) e a Empresa Nacional de Diamantes de Angola (Endiama) têm adotado medidas para aumentar a transparência, modernizar a gestão e atrair investidores privados. O objetivo é claro: garantir que o brilho dos diamantes se traduza em desenvolvimento humano e social.
O futuro do comércio de diamantes em Angola dependerá, portanto, da capacidade nacional de converter a riqueza mineral em capital tecnológico, industrial e humano. A diversificação económica, o fortalecimento das instituições e a valorização local da produção serão decisivos para que o setor diamantífero deixe de ser apenas uma fonte de exportação e se transforme num verdadeiro motor de prosperidade sustentável.
Em suma, os diamantes continuam a ser o símbolo do potencial económico de Angola — mas o seu verdadeiro valor estará em fazer brilhar não apenas as pedras, mas também o futuro do país.
Bibliografias
Endiama E.P. (2024). Relatório Anual de Atividades 2023. Luanda: Empresa Nacional de Diamantes de Angola.
Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás (MIREMPET). (2024). Plano Estratégico do Setor Mineiro 2023–2027. Luanda: Governo de Angola.
Kimberley Process Certification Scheme. (2023). Annual Review of the Kimberley Process. Antwerp: Kimberley Secretariat.
Banco Nacional de Angola (BNA). (2024). Relatório Anual sobre as Contas Externas e o Comércio de Mercadorias. Luanda: BNA.
República de Angola. (2022). Lei n.º 31/11 — Lei da Actividade Geológica e Mineira. Diário da República, I Série, n.º 197.
