Após a assinatura do acordo de paz para Gaza, mediado pelos Estados Unidos, Qatar, Egito e Turquia, a União Europeia (UE) procura agora um papel mais ativo na reconstrução e estabilização do território.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, manifestou o total apoio da UE ao plano de paz, garantindo que Bruxelas está “pronta para contribuir com todos os instrumentos disponíveis” e prometendo fundos comunitários destinados à reconstrução de Gaza.
Em complemento, a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, anunciou o regresso da missão civil da UE no posto fronteiriço de Rafah, entre Gaza e o Egito, como parte do apoio ao cessar-fogo alcançado.
Nos últimos dois anos, as divisões internas entre os Estados-membros limitaram a atuação da UE no conflito israelo-palestiniano, levando o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, a classificar a Europa como “irrelevante” no processo de paz.
Agora, com a implementação das primeiras fases do plano norte-americano — incluindo a libertação de reféns israelitas e prisioneiros palestinianos —, Bruxelas tenta recuperar espaço político e diplomático, participando na reconstrução e promovendo estabilidade duradoura.
O próximo passo prevê a criação de um novo órgão de governação para Gaza, sem a presença do Hamas, bem como o desarmamento do grupo e o envio de uma força multinacional para garantir a segurança.
Especialistas, contudo, alertam que o processo poderá ser longo e complexo. O analista Richard Haass, do Conselho de Relações Externas dos EUA, lembra que “mesmo nos cenários mais otimistas, ainda não se pode falar em paz plena”, sublinhando que o Hamas poderá continuar a exercer influência indireta na região.
Com grande parte das infraestruturas destruídas, um relatório conjunto da UE, Banco Mundial e Nações Unidas estima custos de 53 mil milhões de dólares para a reconstrução de Gaza, sendo 20 mil milhões necessários nos primeiros três anos.
A investigadora Rym Montaz, do grupo de reflexão Carnegie Europe, defende que o bloco europeu deve “alinhar a sua influência e recursos” para contribuir de forma decisiva para o fim de uma guerra que abalou a estabilidade regional.

Europa tenta recuperar influência no processo de paz em Gaza após acordo mediado pelos EUA
Entre as propostas apresentadas está a criação de um fundo europeu de recuperação e resiliência, que seria integrado no plano de reconstrução liderado pelo Egito e pela Autoridade Palestiniana. A ideia, segundo especialistas, permitiria canalizar ajuda financeira para projetos sustentáveis e de base comunitária.
Novo quadro político em Gaza
De acordo com o plano de paz, Gaza passará a ser administrada temporariamente por um comité tecnocrático apolítico composto por especialistas palestinianos e internacionais. A supervisão será feita por um “Conselho de Paz”, presidido por Donald Trump e que deverá incluir figuras internacionais como o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair.
Nenhum líder europeu foi, até ao momento, mencionado entre os membros do conselho, o que levanta dúvidas sobre o real peso político da UE no processo.
Além disso, uma Força Internacional de Estabilização (ISF), composta por países como Egito, Qatar e Turquia, será enviada para o terreno. Os Estados Unidos não participarão diretamente com tropas, e os países europeus também ficaram de fora, pelo menos nesta fase inicial.
Ainda é cedo para avaliar se a União Europeia conseguirá recuperar a relevância diplomática no Médio Oriente. Embora o apoio financeiro possa ser significativo, resta saber se será suficiente para garantir uma paz duradoura e uma presença política efetiva numa das regiões mais instáveis do mundo.

