A Tailândia impôs a lei marcial em oito distritos junto à fronteira com o Camboja após o agravamento de um conflito territorial que já causou dezenas de mortos e forçou mais de 130 mil pessoas a abandonarem as suas casas. A medida foi anunciada esta sexta-feira pelo Comando de Defesa de Fronteira militar das províncias de Chanthaburi e Trat.
O comandante Apichart Sapprasert confirmou que a lei marcial está agora em vigor em sete distritos da província de Chanthaburi e em um da província de Trat. A imposição deste regime de exceção surge após uma intensificação da violência na quinta-feira, envolvendo combates com tanques, aviões de guerra e fogo de artilharia, elevando a tensão a níveis não vistos desde 2011.
Segundo as autoridades tailandesas, 15 pessoas morreram nos últimos dias, enquanto o Camboja confirmou uma vítima mortal. A Tailândia encerrou as suas fronteiras com o país vizinho, tendo também instado os seus cidadãos a deixarem o Camboja. Estima-se que cerca de 138 mil pessoas foram deslocadas nas quatro províncias fronteiriças afetadas.
A origem da disputa remonta a uma antiga rivalidade territorial entre os dois países do sudeste asiático, agravada em maio após a morte de um soldado cambojano num confronto fronteiriço. Apesar de uma decisão do Tribunal Internacional de Justiça em 2013 a favor do Camboja em relação à zona do templo Preah Vihear, outras áreas continuam a ser objeto de disputa.
Perante o agravamento do conflito, a Malásia, na qualidade de presidente rotativo da ASEAN, propôs um cessar-fogo. O governo tailandês declarou que aceita a proposta “em princípio”, mas sublinha que qualquer trégua deve respeitar “condições apropriadas no terreno”, alegando que o Camboja continuou a atacar indiscriminadamente ao longo do dia.
O primeiro-ministro tailandês, Phumtham Wechayachai, alertou que a situação pode escalar para uma guerra, tendo autorizado o exército a agir em caso de emergência. O seu homólogo cambojano, Hun Manet, já se manifestou favorável ao cessar-fogo e apelou a uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, marcada para esta sexta-feira.
Diversos países e organizações internacionais, incluindo os Estados Unidos, União Europeia, França e China, apelaram ao fim imediato das hostilidades e ao regresso ao diálogo.
O recente agravamento das tensões também levou à retirada de embaixadores e ao aumento das acusações mútuas. A Tailândia acusa o Camboja de ataques contra civis e da colocação de minas terrestres, enquanto Phnom Penh condena Banguecoque pelo uso de munições de fragmentação.