Huambo, Angola – Uma delegação parlamentar da UNITA foi atacada na manhã da última quarta-feira (11 de junho) na comuna de Galanga, província do Huambo, durante uma visita a militantes do partido cujas residências haviam sido vandalizadas no final de maio. O episódio marca uma nova escalada de tensão política na região, onde, uma semana antes, o deputado Yakuvela foi agredido — em incidentes que a UNITA atribui a membros do MPLA.
Fonte: DW
De acordo com a deputada Albertina Ngolo, vice-presidente do grupo parlamentar da UNITA, o grupo foi surpreendido por indivíduos que alegadamente se identificaram como militantes do MPLA, oriundos do município de Londuimbale. Os atacantes lançaram pedras contra a caravana parlamentar. A Polícia Nacional interveio com gás lacrimogéneo e deteve dois dos supostos agressores.
“A polícia agiu e conseguimos deter dois indivíduos. Descobrimos que estavam a ser alojados em instalações ligadas ao MPLA, incluindo uma escola e a administração municipal”, relatou Navita Ngolo.
A UNITA denuncia que oito membros da delegação sofreram ferimentos, alguns com gravidade. Ainda segundo a deputada, os detidos terão admitido ter sido incentivados a participar do ataque em troca de promessas de acesso ao programa Kwenda, um subsídio estatal destinado a apoiar famílias em situação de vulnerabilidade.
O partido da oposição responsabiliza diretamente os administradores municipais de Galanga e Londuimbale pela alegada mobilização dos jovens envolvidos nos ataques. “Prometeram dinheiro e inclusão no programa Kwenda. Estavam armados com catanas, drogas e produtos tradicionais”, denunciou Ngolo.
O ativista cívico Cruz de Deus, que presenciou os acontecimentos, descreveu o ambiente como um “estado de sítio” e criticou a atuação da Polícia Nacional. “Houve barricadas montadas perto da esquadra e a polícia nada fez. Foi uma guerra declarada contra a delegação da UNITA”, afirmou.
O governador provincial do Huambo, Pereira Alfredo, também dirigente do MPLA na região, garantiu que a província “prima pela paz”, mas admitiu que os conflitos políticos refletem feridas ainda abertas desde o fim da guerra civil. “Sarar essas feridas é um processo que leva tempo”, comentou.
Navita Ngolo rejeita essa narrativa e argumenta que os episódios de violência estão ligados à importância eleitoral da região. “Há vídeos que mostram moradores locais a afirmar que os jovens atacantes não são da zona. Isso mostra que tudo foi meticulosamente planeado”, disse.
Até o momento, a Polícia Nacional não emitiu qualquer comunicado oficial sobre os incidentes. A UNITA afirmou que irá apresentar queixas-crime contra os responsáveis diretos e os supostos mandantes do ataque.
Os acontecimentos em Galanga voltam a colocar em evidência a fragilidade da convivência política em Angola, dois anos após as últimas eleições gerais e mais de duas décadas desde o fim do conflito armado.