Lisboa – Os dados provisórios da contagem dos votos dos emigrantes portugueses confirmam uma reviravolta histórica na política nacional: o partido Chega, de extrema-direita, será a nova força líder da oposição em Portugal, relegando o Partido Socialista (PS) à terceira posição — um cenário inédito nos 50 anos de democracia portuguesa.
Com mais de 76% dos votos dos círculos da emigração já contabilizados, o Chega e a coligação de centro-direita AD (Aliança Democrática) elegem, cada um, dois deputados — um pelo círculo da Europa e outro pelo círculo Fora da Europa. Já o Partido Socialista, tradicionalmente dominante entre o eleitorado no exterior, não conseguiu eleger qualquer representante, ficando com apenas 13,4% dos votos. O Chega, por sua vez, liderou com 27%, seguido da AD com 15,6%.
Fim do bipartidarismo?
O PS e o PSD (hoje integrando a AD) têm se revezado no poder desde o fim da ditadura, mas os resultados das eleições de 18 de maio e os votos dos emigrantes indicam que essa era pode estar a chegar ao fim.
A AD, liderada pelo Partido Social Democrata (PSD), venceu as eleições legislativas com uma minoria relativa e, com os votos do estrangeiro, atinge agora 91 deputados. O Chega consolida-se com 60 assentos e o PS com 58, configurando uma maioria parlamentar de dois terços à direita — o suficiente para permitir revisões constitucionais, caso os partidos conservadores cheguem a consenso.
Esses resultados refletem uma tendência de viragem política na Europa, onde partidos populistas e de extrema-direita têm ampliado a sua presença nos parlamentos nacionais. Portugal, por muito tempo visto como resistente a esses ventos, agora vê-se no centro desta transformação.
Estas foram as terceiras eleições legislativas em quatro anos, refletindo um período de instabilidade política rara desde o 25 de Abril. A ascensão do Chega e a quebra do tradicional domínio PS/PSD mostram um eleitorado cada vez mais polarizado e insatisfeito com as forças políticas tradicionais.
“Estamos a assistir a uma tentativa de desmantelar os pilares do Estado democrático em áreas sensíveis como igualdade e direitos fundamentais”, alertam analistas.
O resultado das urnas da emigração — tradicionalmente mais moderada — reforça o impacto da insatisfação global com os sistemas políticos estabelecidos e acende um sinal de alerta sobre os rumos da democracia portuguesa.