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Trump vs. Ramaphosa: Quando a diplomacia esbarra na controvérsia racial

by REDAÇÃO

Washington, Sala Oval – O encontro entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, tinha tudo para ser um momento de diplomacia focado em negócios estratégicos. Mas o que começou com uma conversa descontraída sobre golfe, logo tomou um rumo inesperado.

Com vídeos e imagens nas mãos, Trump decidiu abordar um tema controverso: o que ele classificou como “genocídio branco” na África do Sul. Mostrando declarações de Julius Malema, líder do partido radical sul-africano EFF, e alegando perseguição a agricultores brancos, Trump defendeu que “pessoas estão a fugir do país com medo de morrer, tendo suas terras confiscadas”.

Com postura serena, Ramaphosa respondeu que Malema, apesar de ser uma figura parlamentar, não representa o governo sul-africano. Reforçou que o seu país é uma democracia plural, onde a liberdade de expressão é respeitada, e que os comentários de Malema não refletem as políticas estatais.

O presidente sul-africano também fez questão de desafiar a veracidade dos vídeos apresentados por Trump: “Sr. Presidente, sabe onde esse vídeo foi gravado? Porque eu nunca o vi antes”, questionou Ramaphosa. Trump respondeu simplesmente: “Não sei”.

O contexto da reunião é marcado por um clima de tensão crescente entre os dois países. A África do Sul tem avançado com políticas de expropriação de terras sem compensação, como forma de corrigir as desigualdades históricas do apartheid — algo que Trump tem criticado veementemente, considerando essas ações como uma forma de “discriminação contra brancos”.

Em fevereiro, Trump chegou a suspender parte da ajuda americana à África do Sul, especialmente os fundos destinados ao combate ao HIV/SIDA, e ameaçou boicotar a cimeira do G20 em Joanesburgo, caso as políticas atuais se mantenham.

Durante a reunião, Johann Rupert, bilionário sul-africano que integrava a delegação de Ramaphosa, reforçou que a criminalidade atinge todos os grupos no país, negros e brancos, sugerindo ainda o uso da tecnologia Starlink (de Elon Musk) nas esquadras de polícia como ferramenta de combate ao crime.

O governo sul-africano, por sua vez, acusa a administração Trump de abraçar uma narrativa promovida por parte da minoria branca — especialmente pelos afrikaners, que alegam serem alvo de perseguição desde o fim do apartheid. Contudo, dados oficiais contradizem essas alegações: estima-se que ocorram cerca de 50 assassinatos de agricultores por ano, de todas as etnias, num país com mais de 19 mil homicídios anuais.

Especialistas acreditam que, ao levantar essa bandeira, Trump está principalmente a falar para sua base conservadora, preocupada com os direitos das minorias brancas no exterior. Ao mesmo tempo, estaria usando a questão como ferramenta de pressão geopolítica contra a África do Sul, que tem ganhado destaque internacional por criticar Israel no Tribunal Penal Internacional.

No fim do encontro, apesar da tensão, Ramaphosa manteve a compostura. Com um toque de humor, referiu-se ao episódio recente em que o Qatar ofereceu um avião presidencial de luxo aos EUA: “Peço desculpa por não ter um avião para lhe dar”, disse, arrancando sorrisos e tentando desanuviar o clima.

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