Um episódio pouco conhecido da história política angolana acaba de ser trazido à tona pelo General Paulo Lukamba “Gato”, antigo secretário-geral da UNITA. Durante uma recente entrevista, o veterano dirigente revelou detalhes de uma proposta secreta feita em 1989 que teria como objetivo convencer Jonas Savimbi, líder histórico do movimento, a sair do país em troca de uma fortuna.
De acordo com Lukamba Gato, a proposta foi articulada com o envolvimento direto dos então presidentes do Gabão e da República do Congo, Omar Bongo Ondimba e Dennis Sassou Nguesso, que enviaram uma carta ao rei Hassan II, do Marrocos. O plano consistia em oferecer a Savimbi uma residência de luxo à beira-mar, sob o pretexto de garantir sua segurança enquanto o presidente angolano da época, José Eduardo dos Santos, conduzia o processo de pacificação do país.
Mas o detalhe mais impressionante da proposta estava no incentivo financeiro: 10 milhões de dólares americanos seriam disponibilizados para garantir uma estadia confortável e silenciosa ao líder da UNITA no exílio.
Segundo o relato, a missão de avaliar a seriedade e viabilidade da proposta foi confiada a Lukamba Gato, que recebeu a carta através do Dr. Oquias, antigo colaborador próximo de Omar Bongo. Após refletir sobre o conteúdo, Gato decidiu não levar a proposta adiante, considerando que a oferta não estava alinhada com os interesses estratégicos da UNITA naquele momento da guerra civil.
Passadas mais de três décadas, o general observa com ironia que os papéis se inverteram. Omar Bongo, que antes oferecia exílio, agora encontra-se refugiado em Angola, aguardando os próximos capítulos da instabilidade política em Brazzaville. Para Gato, o cenário atual é parte de um “jogo que já acontece fora do tempo regulamentar”.
A revelação reacende os debates sobre os bastidores da guerra civil angolana, marcada por intensas articulações diplomáticas e interesses internacionais. O episódio mostra como potências regionais tentaram intervir de forma discreta no futuro de Savimbi e, por extensão, no rumo político de Angola.