A RENAMO, que por décadas foi a principal força de oposição em Moçambique, enfrenta atualmente um dos momentos mais turbulentos da sua história recente. A liderança de Ossufo Momade está sendo fortemente contestada, tanto por membros internos quanto por ex-guerrilheiros, gerando protestos, tensão e uma instabilidade que ameaça a integridade do partido.
Na última semana, ex-combatentes da RENAMO cercaram a sede do partido em Maputo exigindo a saída imediata de Momade da presidência. A ação foi acompanhada por ameaças de cercos à residência do líder, refletindo o crescente descontentamento entre as bases. Em meio a isso, surgiu nas redes sociais um comunicado, posteriormente removido, que denunciava supostos responsáveis pela tentativa de desestabilização interna, entre eles Elias Dhlakama, irmão do histórico líder Afonso Dhlakama. A direção da RENAMO, no entanto, negou a autoria do documento.
As tensões aumentaram ainda mais após declarações do membro Fernando Mazanga, que sugeriu que Momade estaria com problemas de saúde. O porta-voz do partido, Marcial Macome, refutou essas alegações, afirmando que o presidente se mantém ativo nas funções partidárias e que questões de saúde pertencem à esfera pessoal. Segundo Macome, o líder participou recentemente de reuniões que se estenderam até de madrugada, demonstrando disposição e envolvimento.
Questionado sobre os sinais de enfraquecimento do partido, Macome rebateu afirmando que a crise enfrentada pela RENAMO deve ser entendida num contexto mais amplo. Para ele, a democracia em nível global passa por um momento difícil, e como defensora dessa causa em Moçambique, a RENAMO também enfrenta o desafio de se reinventar. O porta-voz comparou a situação com episódios internacionais, como a invasão do Capitólio nos EUA, ressaltando que crises não necessariamente significam colapso institucional.
Sobre a possibilidade de Ossufo Momade deixar o cargo, Macome destacou que decisões como essa não cabem a vontades individuais, mas sim aos órgãos internos do partido. Ele alertou contra soluções extremas, defendendo um debate profundo e responsável sobre os rumos da organização. Para ele, a crise não deve ser atribuída exclusivamente à liderança, mas compreendida em seu conjunto — incluindo os colaboradores e estruturas internas da RENAMO.
Apesar da gravidade da situação, o partido afirma estar a trabalhar ativamente para superar os desafios. Um dos caminhos esperados para buscar soluções seria a realização do Conselho Nacional, instância que permitiria discutir os problemas com maior profundidade. No entanto, esse encontro foi adiado sem nova data marcada. Segundo Macome, a comissão política deve se reunir em breve para definir os detalhes da realização do evento.
A RENAMO encontra-se em uma encruzilhada histórica. Com o legado de ser “o pai da democracia” moçambicana, o partido precisa agora mostrar capacidade de reinvenção, unidade e diálogo interno para continuar relevante no cenário político do país. Se conseguirá transformar a crise em oportunidade, só o tempo e as decisões internas dirão.