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Caldeirada Indigesta das Condecorações: Entre Heróis e oportunistas

by REDAÇÃO

Em Angola, a celebração dos 50 anos de independência nacional deveria ser um momento de justa homenagem àqueles que verdadeiramente marcaram a história do país. No entanto, as recentes listas de condecorações divulgadas causaram perplexidade entre jornalistas, combatentes e cidadãos atentos à memória nacional.

Durante anos, o regime colonial português tentou silenciar a luta de libertação angolana. Informações sobre batalhas vencidas pelo MPLA e avanços no território eram bloqueadas ou distorcidas. Ainda assim, vozes corajosas romperam o cerco informativo: jornalistas como Augusta Conchiglia, Basil Davidson e Stefano di Stefani foram aos territórios libertados no Leste de Angola e relataram ao mundo o que ali se passava. Graças a esses relatos, a verdade sobre a luta armada começou a ecoar além-fronteiras. Hoje, Conchiglia e Davidson serão homenageados – um reconhecimento merecido.

Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, teve início uma nova fase da luta – a chamada Guerra de Transição. Angola viveu então uma verdadeira batalha pela informação, travada não apenas nas frentes de combate, mas também nos estúdios de rádio, nas redações e nos bastidores dos media. Jornalistas como Aldemiro Vaz da Conceição e Manuel Berenguel estiveram na linha da frente desta ofensiva comunicacional. Suas vozes ajudaram a informar e a mobilizar a população. Também serão condecorados – outro ato de justiça.

Mas nem todos os nomes anunciados nas homenagens evocam o mesmo respeito. Há quem, na altura da luta, não tivesse qualquer participação ativa, e que hoje surge nas listas oficiais por mérito duvidoso. Alguns iniciaram carreira apenas nos anos 80, outros estavam fora do país durante os momentos decisivos da libertação, e outros ainda foram responsáveis por episódios obscuros da nossa história recente.

O mais chocante para muitos é ver heróis da luta armada homenageados ao lado de figuras que nada fizeram ou até traíram os ideais da revolução. Como explicar que comandantes lendários sejam lembrados na mesma cerimónia que indivíduos que colaboraram com o colonialismo ou estiveram ausentes nos momentos mais críticos?

A indignação aumenta com a inclusão de nomes ligados a crimes políticos, traições e oportunismos diversos. Para muitos, este nivelamento entre quem fez história e quem apenas a explorou é não apenas injusto, mas ofensivo à memória de quem tombou pela pátria.

A sociedade angolana tem plena consciência de quem são os seus verdadeiros heróis. As homenagens oficiais, por mais polémicas que sejam, não apagarão o legado dos que deram a vida por um país livre e soberano. A história é escrita com coragem, sacrifício e verdade – e não com favores políticos ou conveniências momentâneas.

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