O tão aguardado processo-crime contra a empresária angolana Isabel dos Santos entra agora numa nova fase. Após anos de investigações e debates públicos, o caso será finalmente analisado pelos tribunais angolanos, com a fase de instrução contraditória marcada para o próximo dia 22 de maio.
A informação foi divulgada pelo *Novo Jornal*, com base em fontes ligadas ao sistema judicial. A ação penal envolve suspeitas relacionadas à gestão de Isabel dos Santos à frente da Sonangol, a principal empresa petrolífera estatal, durante os anos de 2016 e 2017.
Isabel dos Santos, filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos, enfrenta um extenso leque de acusações. Entre os crimes apontados estão peculato, burla qualificada, abuso de poder, falsificação de documentos, associação criminosa, participação económica em negócio, tráfico de influências, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada.
Desde que os primeiros indícios vieram a público, a Procuradoria-Geral da República de Angola tem insistido na responsabilização da empresária. Em 2024, o procurador-geral Hélder Pitta Gróz revelou que as autoridades dos Emirados Árabes Unidos – onde Isabel reside atualmente, no Dubai – já tinham recebido toda a documentação necessária para colaborar com o processo judicial.
Isabel dos Santos tem negado todas as acusações, classificando o processo como uma ofensiva de cariz político. Alega perseguição por parte das autoridades angolanas e diz-se pronta para colaborar com a justiça, mas sempre a partir do exterior.
Apesar das declarações de inocência, os ventos não têm soprado a seu favor no cenário internacional.
Em novembro de 2024, o Governo do Reino Unido aplicou sanções contra Isabel dos Santos e dois dos seus associados diretos: Paula Oliveira, sua sócia e amiga próxima, e Sarju Raikundalia, ex-diretor financeiro da Sonangol. As medidas incluem a proibição de entrada em território britânico e o congelamento de bens, sob alegações de corrupção e desvio de fundos públicos.
As autoridades britânicas acusam a empresária de ter utilizado cargos em empresas estatais para desviar, sistematicamente, mais de 350 milhões de libras esterlinas (aproximadamente 420 milhões de euros), comprometendo o desenvolvimento de Angola.
Além disso, Isabel é alvo de um aviso vermelho da Interpol desde 2022, e teve confirmada, em sede de recurso, a decisão de congelamento global dos seus ativos.
Em resposta às sanções, Isabel dos Santos declarou que as acusações são infundadas e que irá recorrer judicialmente das decisões internacionais, prometendo expor o que chama de “narrativas falsas” criadas pelo governo angolano.
O processo contra Isabel dos Santos está longe de ser apenas um caso jurídico; é também um episódio emblemático sobre poder, corrupção, política e justiça em Angola. A audiência marcada para 22 de maio será um ponto de viragem — não só para a empresária, mas também para a credibilidade do sistema judicial angolano perante os olhos do mundo.