Na noite desta quarta-feira, em Luanda, deputados, militantes e simpatizantes da UNITA reuniram-se em frente à Rádio Nacional de Angola (RNA) numa vigília simbólica. O objetivo foi claro: exigir respeito à liberdade de imprensa e mais transparência no processo eleitoral do país.
A iniciativa, organizada pelo grupo parlamentar da UNITA — principal partido da oposição —, integrou as comemorações do “Dia do Deputado da UNITA”, celebrado a 8 de maio. Vestidos de branco e empunhando velas acesas e cartazes com frases como “Defendemos a liberdade de imprensa” e “Exigimos dignidade para os jornalistas”, os participantes deram o tom de um protesto pacífico, mas carregado de simbolismo político.
O evento teve início às 19 horas e foi marcado por cânticos, palavras de ordem e homenagens ao antigo deputado Raul Danda, falecido em 2021 e lembrado como defensor intransigente da liberdade de expressão. Danda, que também foi locutor da própria RNA, tornou-se uma figura emblemática dentro do partido e símbolo da luta pela democratização dos meios de comunicação em Angola.
Apesar da natureza pacífica da vigília, os participantes relataram tentativas iniciais de intimidação por parte das autoridades. Um forte contingente policial foi deslocado para o local, e, segundo relatos, houve esforços para deslocar o protesto para outro espaço público, sob alegações de interpretação legal.
Olívio Kilumbo, deputado da UNITA, destacou que o ato foi um protesto contra o que chamou de “agressão à liberdade de imprensa” praticada pelo partido no poder, o MPLA. Segundo ele, a utilização dos meios de comunicação estatais para interesses partidários ameaça os princípios democráticos e mina o papel da RNA como veículo público imparcial.
Adriano Sapinãla, também deputado e líder provincial do partido em Luanda, reforçou que a manifestação seguiu todos os trâmites legais e lamentou o que chamou de “violações evidentes” à Constituição, especialmente em relação às liberdades fundamentais e ao processo eleitoral atualmente em debate no Parlamento.
A deputada Mihaela Webba aproveitou o momento para exaltar o legado de Raul Danda, classificando-o como um “exímio jornalista e deputado” que simboliza a luta por igualdade no tratamento dos partidos políticos pelos meios públicos.
De acordo com Albertina Ngolo, a vigília foi replicada em outras províncias, reforçando a mensagem de unidade e resistência em defesa da liberdade de expressão e da necessidade de um processo eleitoral justo e transparente.
O presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, também esteve presente. Em sua intervenção, alertou para o que considera um “retrocesso preocupante” dos valores democráticos em Angola. “Em vez de avançarmos na consolidação das liberdades conquistadas com o processo de paz, estamos a assistir a uma perda contínua de direitos fundamentais e pluralismo”, afirmou.
Para Costa Júnior, as propostas do governo sobre o novo pacote legislativo eleitoral representam uma afronta à Constituição, colocando em risco os pilares da democracia.
A vigília terminou à meia-noite, mas a mensagem da oposição ficou clara: sem liberdade de imprensa e eleições transparentes, não há democracia plena.