Um novo capítulo se abre na conturbada história de Cabinda. A Frente de Libertação do Estado de Cabinda – Forças Armadas Cabindesas (FLEC-FAC) anunciou esta segunda-feira, 14 de Abril, um cessar-fogo unilateral com efeito imediato. A trégua, válida em todo o território de Cabinda, terá a duração de dois meses e termina às 23h00 do dia 14 de Junho de 2025.
De acordo com o comunicado oficial divulgado pelo Estado-Maior General das FAC, a decisão foi tomada em alinhamento com a liderança política da FLEC-FAC e tem como principal objetivo facilitar um ambiente propício à negociação com o Governo angolano.
Este gesto, segundo a organização, é uma demonstração de boa vontade para com possíveis soluções políticas e diplomáticas que ponham fim ao prolongado conflito armado na região.
O cessar-fogo também surge como uma resposta à recente iniciativa do partido angolano UNITA, que expressou a intenção de apresentar ao Parlamento uma proposta voltada à questão de Cabinda. A FLEC-FAC vê nesse movimento político uma oportunidade de avanço e deixa claro que não pretende interferir no seu desenvolvimento.
Para os cabindas armados, esta pode ser uma rara chance de se abrir uma janela para negociações sérias e construtivas.
Embora o cessar-fogo seja um gesto pacífico, o comunicado das FAC deixa claro que haverá tolerância zero a provocações. Caso as Forças Armadas Angolanas (FAA) realizem ações ofensivas ou repressivas contra a população de Cabinda durante o período de trégua, a FLEC-FAC se reserva o direito de responder militarmente.
O tom do documento é firme ao mesmo tempo que reforça o compromisso com a paz:
“Reafirmamos o nosso compromisso com a resolução pacífica do conflito e reiteramos a nossa abertura ao diálogo, no respeito pelo direito à autodeterminação do povo de Cabinda.”
A declaração foi assinada pelo tenente-general João Cruz Mavinga Lúcifer, chefe da Direção das Forças Especiais das FAC.
O cessar-fogo está condicionado ao avanço da proposta da UNITA no Parlamento. Se, até o final da trégua, não forem apresentados resultados concretos, a FLEC-FAC poderá revogar a decisão e retomar as operações militares.
Este período será, portanto, um verdadeiro teste à capacidade de diálogo entre as partes e à seriedade com que o Governo e os atores políticos angolanos estão dispostos a tratar a questão de Cabinda.
Embora o histórico do conflito em Cabinda inspire cautela, esta trégua abre uma nova possibilidade para repensar caminhos. Uma solução política e pacífica exige coragem, escuta mútua e, sobretudo, vontade real de resolver.