O clima de celebração pelos 50 anos da independência de Angola foi marcado por controvérsias políticas, com várias figuras históricas decidindo não participar nos atos de homenagem programados para o próximo 4 de abril. Isaías Samakuva, ex-presidente da UNITA, anunciou publicamente sua decisão de não comparecer às comemorações, alegando que a exclusão de figuras emblemáticas como Jonas Malheiro Savimbi e Álvaro Holden Roberto desvalorizava as celebrações.
Samakuva considerou que a ausência de tais nomes, que desempenharam papéis fundamentais na luta pela independência de Angola, faz com que as comemorações percam a abrangência e a verdadeira representatividade histórica que o evento deveria ter. Ele não é o único a compartilhar essa posição, já que os nacionalistas José Samuel Chiwale, Ernesto Mulato e Meraldina Jamba também optaram por não participar, protestando contra a exclusão de líderes que foram essenciais no processo de libertação do país.
Lucas Bengui Ngonda, ex-líder da FNLA, também se juntou ao protesto, rejeitando a homenagem em solidariedade à memória de Holden Roberto. Para Ngonda, a verdadeira reconciliação nacional exige mais do que apenas a cessação das hostilidades; é necessário um reencontro genuíno entre todos os angolanos, algo que ele considera estar em falta nas atuais comemorações. Segundo Ngonda, a integração verdadeira não pode ser alcançada sem uma inclusão real das figuras históricas que, ao lado de Agostinho Neto e outros, estiveram à frente da luta pela independência.
Em declarações divulgadas em áudio, Lucas Ngonda expressou sua indignação com a decisão do presidente João Lourenço, afirmando que a exclusão de Savimbi e Roberto era um “crime político”. Ele afirmou que “duas grandes figuras vão desaparecer do mapa” e destacou que a independência de Angola não foi obra apenas de Agostinho Neto, mas de muitos outros líderes, incluindo Savimbi e Roberto, que assinaram os Acordos de Alvor, os quais formalizaram a independência do país. Para Ngonda, as celebrações parecem ser uma homenagem exclusiva às vitórias do MPLA, deixando de lado outros protagonistas importantes da história de Angola.
A UNITA, partido fundado por Savimbi, tem criticado abertamente os critérios utilizados para a atribuição da Medalha Comemorativa dos 50 Anos da Independência, acusando o governo de priorizar figuras do MPLA, como chefes de Estado e governantes, em detrimento dos líderes nacionalistas que também desempenharam papéis decisivos na luta pela liberdade. O partido defendeu que as celebrações deveriam reconhecer igualmente todos os envolvidos na independência, sem discriminação.
Por outro lado, o MPLA desafiou a UNITA a apresentar os feitos do partido ao longo dos 50 anos de independência, gerando um embate político entre as duas siglas. Em resposta, a UNITA afirmou que a celebração da independência não deve ser utilizada como uma ferramenta para fins políticos partidários, especialmente quando se trata de uma data que deveria unir todos os angolanos.
Essa troca de acusações entre os partidos revela o quanto as tensões políticas ainda permeiam as relações entre as figuras históricas da luta pela independência de Angola e como as comemorações dos 50 anos têm sido influenciadas por divisões políticas ainda latentes.