A Nova Cimangola, uma das maiores fábricas de cimento em Angola, está no centro de um escândalo envolvendo alegadas irregularidades que prejudicam o Estado angolano. De acordo com um dossiê revelado recentemente, a atual gestão da empresa, controlada por expatriados, teria se envolvido em diversos esquemas fraudulentos que levantam sérias questões sobre a transparência e ética nas operações da companhia.
Entre as acusações mais graves, destaca-se o envolvimento de dois expatriados em desvio de fundos e favorecimento de interesses externos. O antigo Presidente do Conselho de Administração (PCA) e atual Presidente do Conselho Executivo (PCE) da Cimangola, Pedro Pinto, juntamente com o atual Diretor Comercial e Administrador Executivo, German Carrillo, são apontados como principais responsáveis por essas irregularidades. Ambos teriam orquestrado um esquema em que a Cimangola paga mensalmente 100 milhões de kwanzas a um suposto proprietário de um terreno baldio em Benguela. No entanto, investigações apontam que o terreno pertence, na realidade, aos próprios responsáveis da empresa, que justificam os pagamentos alegando que atividades relacionadas à empresa seriam realizadas no local. Contudo, imagens obtidas pelo portal Club-K revelam que o terreno está completamente abandonado, o que levanta ainda mais suspeitas sobre a veracidade dessas alegações.
Outro ponto crítico é o caso de sobrefaturação dos serviços de limpeza de silos de cimento, liderado por Carrillo e coadjuvado por Armando Martinez, Diretor de Operações. O contrato com a empresa JC, responsável pela limpeza dos silos, inicialmente contemplava um valor de 50 milhões de kwanzas. No entanto, a JC teria sido induzida a aumentar o valor para mais de 100 milhões de kwanzas mensais, tornando-se a fornecedora preferencial. Esse aumento substancial nos valores cobra um preço duvidoso e levanta questões sobre a integridade do processo de contratação.
Além disso, os envolvidos teriam criado uma empresa chamada AURORITA, supostamente dedicada a fornecer serviços no setor mecânico e elétrico. No entanto, essa empresa teria sido montada como uma fachada, com o pai de um colaborador sendo usado como testa-de-ferro para mascarar a ligação dos responsáveis com a empresa.
Uma das acusações mais controversas envolve a comercialização de cimento a crédito exclusivamente a empresas chinesas, com preços abaixo do valor real, o que possibilita a sobrefaturação durante o processo de pagamento. Essa prática levanta preocupações sobre o impacto econômico e a transparência dos negócios da Cimangola, especialmente em um contexto onde o governo angolano já enfrenta dificuldades financeiras.
O novo PCA da Cimangola, que assumiu recentemente a liderança da empresa, encontra-se sob pressão para não interferir nas ações dos expatriados, que, segundo fontes, representam interesses obscuros de figuras de destaque no Estado angolano. No entanto, há uma crescente expectativa de que a nova liderança possa implementar mudanças significativas, combatendo os esquemas fraudulentos e protegendo o patrimônio público.
A situação da Nova Cimangola ilustra as sérias dificuldades enfrentadas por muitas empresas estatais e privadas em Angola, especialmente quando se trata de garantir a transparência e a honestidade nos negócios. Resta saber se as autoridades competentes tomarão as medidas necessárias para combater a corrupção e garantir a justiça em casos como esse, que envolvem grandes somas de dinheiro e afetem diretamente o Estado e a economia angolana.
Fonte: Club-k.net