A transparência nos processos de admissão em instituições públicas e privadas tem sido um desafio constante em Angola, com frequentes denúncias de irregularidades. Recentemente, o ministro do Interior, Manuel Homem, tomou medidas para reavaliar mais de sete mil agentes admitidos pelos Serviços de Migração e Estrangeiros (SME), Serviço de Investigação Criminal (SIC) e Serviço de Proteção Civil e Bombeiros (SPCB) durante a gestão anterior.
As avaliações iniciadas pelo atual ministro buscam identificar responsabilidades no enquadramento desses agentes, além de apurar se houve pagamento para garantir admissões. Tais esforços incluíram a suspensão de cursos de formação diante de acusações graves, como facilitação para entrada de estrangeiros e admissão de indivíduos com antecedentes criminais.
Para o jurista Albano Pedro, a corrupção é o principal obstáculo à transparência nos concursos públicos. Ele destaca que o problema não se limita à admissão de pessoal, mas também atinge outras áreas, como concursos para prestação de serviços ao Estado e pagamento de dívidas públicas ao setor privado. Segundo Pedro, a situação reflete práticas inadequadas que persistem tanto entre funcionários públicos quanto em instituições privadas que dependem do erário.
A realidade dos concursos públicos tem gerado desilusão entre os jovens, conforme observa a jurista Evandra Furtunato. Ela aponta que o número reduzido de vagas, os altos custos de formação em Angola e os requisitos excessivos dificultam ainda mais o acesso ao primeiro emprego. Além disso, o nepotismo continua a ser uma prática comum, prejudicando a meritocracia e frustrando uma geração ávida por oportunidades.
Furtunato ressalta que o ingresso baseado em relações pessoais — sejam elas de parentesco ou influência — mina a confiança no sistema e contribui para a insatisfação crescente entre os jovens.
A iniciativa do Ministério do Interior em revisar os processos de admissão é um passo positivo, mas também evidencia a gravidade da situação. Para Albano Pedro, essa ação é um reconhecimento de que os processos não seguiram os padrões legais. No entanto, enfrentar as raízes do problema requer um esforço conjunto para combater a corrupção e implementar práticas mais transparentes.
A transparência nos concursos públicos não é apenas uma questão de justiça, mas também uma ferramenta essencial para restaurar a confiança da população nas instituições e promover um futuro mais igualitário para todos.