As Nações Unidas receberam até agora apenas um quarto do financiamento necessário para o plano de resposta humanitária à crise do Haiti, disse hoje o secretário-geral.
A ONU lançou um apelo no final de fevereiro para angariar 674 milhões de dólares (cerca de 628 milhões de euros), a fim de proteger milhões de haitianos afetados pela violência dos bandos e pela insegurança alimentar, numa situação que está fora de controlo. No entanto, até agora, a organização recebeu apenas 168 milhões de dólares (cerca de 156 milhões de euros).
Face à gravidade da situação naquele país, foi enviado nos últimos dias um primeiro contingente da missão multinacional liderada pelo Quénia, embora com um atraso de meses.
Os Estados Unidos não contribuíram com pessoal militar para esta operação, oficialmente designada por Missão Multinacional de Apoio à Segurança, mas a Administração Biden comprometeu-se a reforçá-la com equipamento avaliado em até 300 milhões de dólares (279 milhões de euros) e a afetar mais 33 milhões de dólares (quase 31 milhões de euros) em ajuda humanitária.
Para além do grave contexto de insegurança, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse hoje estar “preocupado” com o impacto que o furacão Beryl poderá ter, especialmente na parte sul da ilha, nas próximas 24 horas.
“Parece que é apenas o início de uma intensa temporada de furacões no Atlântico (…) O Haiti pode ser atingido por fortes chuvas, ventos e deslizamentos de terra. As nossas agências humanitárias já estão em contacto com as entidades locais”, afirmou Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, numa conferência de imprensa realizada hoje.
Dujarric disse ainda que a assistência mais imediata consistirá em refeições quentes produzidas localmente e na distribuição de biscoitos de alta energia.
“A época dos furacões, que começou a 1 de junho e se prolongará até ao final de novembro, poderá agravar as condições de vida de milhões de haitianos que já se encontram encurralados numa crise humanitária complexa”, afirmou Dujarric.
Nas últimas horas, a Unicef registou um aumento de 60% no número de crianças deslocadas pela violência desde março, atingindo um total de 300.000 crianças.
Além disso, pelo menos 20 pessoas foram mortas na segunda-feira por membros da coligação de gangues ‘Vivre Ensemble’ (Viver Juntos), que atacaram a esquadra da polícia na comuna de Gressier, a sul da capital haitiana, Port-au-Prince, num ato perpetrado apesar da presença de tropas quenianas no país.
O Haiti está sem presidente desde que um grupo de homens armados invadiu a sua residência oficial para o assassinar no início de julho de 2021.
Pouco tempo depois, Ariel Henry ascendeu ao cargo de primeiro-ministro no meio de críticas e após vários anos de instabilidade.
Em março deste ano, demitiu-se após uma onda de violência que abalou o país das Caraíbas.
Desde então, foi criado um Conselho Presidencial de Transição do Haiti, liderado pelo antigo presidente do Senado haitiano entre 1995 e 2000, Edgard Leblanc.
O Conselho elegeu o antigo primeiro-ministro Garry Conille (2011-2012) como novo chefe do governo de transição. O objetivo é preencher temporariamente o vazio político numa fase que deverá terminar com eleições em 2026, uma década após as últimas eleições.