Dois militares das Forças Armadas Angolanas (FAA) foram detidos em Benguela nesta segunda-feira, 1 de Abril, no seguimento de protestos contra atrasos na passagem para a Polícia Nacional, definida há mais de um ano.

Ambos faziam parte de um grupo de militares que se dirigia ao Governo Provincial de Benguela, proveniente da Direcção de Recrutamento Militar (DRM), à procura de explicações de um corte salarial.

Vários militares do curso de 2016, alguns antigos integrantes de missões das FAA na República Democrática do Congo e na província angolana de Cabinda, viram a marcha interrompida por efetivos policiais da Unidade de Reacção e Patrulhamento, que usaram gás lacrimogéneo para efeito.

Os manifestantes, detentores de licenças para a passagem do Ministério da Defesa para o do Interior, foram empurrados para longe da sede do Governo de Benguela e, depois, cercados pela Polícia num conhecido ponto da cidade capital da província.

Na hora da descrição dos fatos, falaram em clima de agitação que poderia ter terminado em mais detenções.

“A caminhar até aqui a Polícia nos privou, e não entendemos, houve luta com os colegas, levaram dois colegas, eles têm armas e gás, isso não se faz. Pensamos que temos de ir todos para trazermos os companheiros, não apenas dois ou três, como pede o comandante”, disse um dos manifestantes.

“Se calhar querem prender mais, não custa nada trazer para aqui os colegas”, ressaltou Manel Polonga.

Protestos pelas mesmas causas, segundo as fontes, terão ocorrido noutras províncias.

Benguela tem mais de 400 elementos sem os salários do mês de março.

Temendo que venham mais cortes salariais, alertam para consequências do que chamam de entraves na sua reinserção na sociedade e prometem mais manifestações.

“Temos entre 25 e 30 anos, fomos crianças para a tropa, o que vamos fazer sem salário? Vamos entrar para delinquência?”, questiona João Alfredo, sublinhando que “temos filhos para sustentar”.

“O melhor é voltarmos para as nossas unidades, toda a minha vida, e isso os colegas confirmam, foi feita em Cabinda, no Mayombe, perdemos tempo. Sem salários vamos roubar, a nossa arte é matar, estão a nos obrigar a matar, só sabemos cumprir missão”, acrescenta Alfredo.

A dirigir a missão policial esteve o comandante da PN no município de Benguela,
superintendente-chefe Filipe Cachota, que optou por não prestar declarações.

“A conversa já foi com os jovens, não tem nada”, disse aquele oficial superior

E nesta conversa, de acordo com o que foi possível apurar, o comandante Cachota sugeriu, entre outros conselhos, que o grupo procurasse abordar, através de uma carta, o comandante provincial e delegado do Interior.

Em algumas províncias, há sensivelmente três anos, foram efetuados atos públicos de transição de ex-militares para a PN, tendo altas patentes do Ministério do Interior afirmado que a corporação estava a ser bem servida para o desafio da ordem e tranquilidade em tempo de eleições no país.

Fonte: VOA