O financiamento através da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) cresceu mais de 1.000% desde 2016, ultrapassando em 2023 os 333.219 milhões de meticais (4.770 milhões de euros).
“Trata-se de um dos mais importantes indicadores bolsistas, porque mede a capacidade de financiamento à economia, sendo este o indicador bolsista que teve maior evolução ao longo do tempo, em particular desde o final de 2016 até hoje”, disse, numa entrevista à Lusa, o presidente da BVM, Salim Valá.
Em 2016, o volume de financiamento ascendia a 28.993 milhões de meticais (415 milhões de euros), pelo que até 2023 cresceu 1.049,3%, “tornando-se desta forma, o indicador de maior performance em 25 anos de funcionamento da BVM”.
Valá acrescenta que este indicador mede o ‘stock’ de dívida ativa, como Obrigações do Tesouro, Obrigações Corporativas e papel comercial, acrescida do financiamento via capital social (‘equity’), normalmente através de operações de venda ou subscrição de ações, podendo ainda ser segmentado por financiamento ao setor público e ao setor privado.
O tipo de entidades que se financiam pela bolsa está diretamente dependente do tipo de valor mobiliário, sejam as emissões de Obrigações do Tesouro para exclusivo financiamento do Estado, ou Obrigações Corporativas e papel comercial, que “podem corresponder tanto a entidades públicas como privadas”, o mesmo sucedendo com as operações de capital social.
Assim, nas obrigações corporativas, foram feitas nos últimos cinco anos, pela BVM, 13 emissões com o valor total de 4.542,4 milhões de meticais (65 milhões de euros), totalmente por instituições financeiras.
No mesmo período, as emissões de papel comercial alcançaram os 3.092,7 milhões de meticais (44,3 milhões de euros), 2,2% por empresas e 97,8% por instituições financeiras, enquanto as operações de capital social foram concretizadas exclusivamente por três empresas, num valor total de 11.427 milhões de meticais (163,5 milhões de euros).
“As empresas do ramo financeiro são as que mais usam as obrigações corporativas e o papel comercial, são as que mais utilizam as operações de capital (‘equity’), incluindo empresas como a Hidroelétrica de Cahora Bassa, que faz parte do Setor Empresarial do Estado”, concluiu Valá, manifestando o objetivo de ter outras empresas estatais moçambicanas “a usar o mercado de capitais como meio de financiamento”.
Contudo, o presidente da bolsa recorda que o financiamento através do mercado de capitais “está dependente de fatores de índole macroeconómica”, em particular o nível das taxas de juro, da taxa de inflação, as reservas obrigatórias, taxas de câmbio, a taxa de poupança, a taxa de crescimento da economia, entre outros, incluindo os rankings do país por instituições especializadas.
“Em Moçambique, o nível das taxas de juro é considerado elevado, mesmo comparando com os países da região da África subsariana, o que tem condicionado, sobremaneira, a capacidade das empresas recorrerem ao crédito a um custo comportável”, aponta.
Valá reconhece igualmente que a BVM tem dado “importância” à educação financeira e que por isso está a “implementar um robusto e abrangente” programa para se dar a conhecer a empresas e investidores.
“E assim poderem usar mais o mercado de capitais como uma alternativa de financiamento as empresas. Ao longo do tempo, o setor empresarial privado tem-se vindo a financiar no mercado de capitais, em particular ao nível do financiamento de curto prazo, através da emissão de papel comercial, que praticamente esteve estagnado desde 2017”, explica.
Após a bolsa não ter registado qualquer emissão de papel comercial pelas empresas, de curto prazo, estas operações atingiram 250 milhões de meticais (3,5 milhões de euros) em 2022.
Estas operações tiveram “maior expressão em 2023” e “alcançaram volumes expressivos” de 2.775,2 milhões de meticais (39,7 milhões de euros), “um crescimento de 1.010%”, avança ainda Valá.